Amargo de laranja
– Vergonha sempre há, mesmo
quando não se é mais menina...
Delibera outras palavras para mim,
tenho urgências de palavras bonitas.
Não? Vergonha é palavra feia,
cheiro de glândulas, sem sabão.
Me lavo muito, me desencarno,
há um amargo em minha pele, nas dobras,
nas mãos, nas auréolas douradas
onde nasceu o verbo amar,
um amargo de laranja, daquela parte branca.
É. Sou. Verdade. Agra. Branca.
Desejo? Tu sabes,
por que me perguntas?
Ele é bem maior. Projetos bons.
É angustia também, latidos que incomodam.
Se tens um cão em casa, sabes, te acostumas.
Ele late, late, late
e tu fazes
o que tem que fazer.
O sentimento vem fácil,
não dou confiança, verdade,
aborto todos. São pedras lisas,
fundamento onde pisas,
tem que pisar certo. A queda
te espera lamacenta, a cada passo.
Ah... disso não se fala,
...na hora, na hora. Não sei. Verdade.
Na hora voa da mente um pássaro
desabitado de ventos nos ossos,
que me leva e me cai. Sinto
uma vontade de ficar caída,
mas me levanto...
12 comentários:
Oi, Dauri,
Estava com saudades da força das suas palavras e dos sentimentos crus, rascantes e verdadeiros que nelas constam.
Gosto dessa "contradição" de idéias. Desse fazer pensar que você sempre nos provoca.
Beijos meus,
Inês
Acompanho, entre angustiado e perplexo, quanto pode a arte fazer com a dor humana. Aqui se passa o drama, mesmo fundado na poética. A literatura mais bela tratou da dor humana, vide Górki, Dostoiévski, Victor Hugo e, mais perto de nós Raduan Nassar e o nosso recifense Raimundo Carrero.
Acompanho-te, Poeta, entre perplexo e angustiado...
Oi, Dauri.
Este eu li cinco vezese, te confesso, leria, sem cansar outras tantas.
Sabe, o ritmo e a forma que me levaste a construir, fez-me mergulhar nas "zonas de cais e mangue" e foi um universo de imagens onde o ritmo da linguagem, sobrepôs "Geni e o zepelin" do Chico e as profissionais do sexo "Daspu" estranhamente, em meio à uma angustiante imagem de criança.
Caramba, Dauri.
Que magia tem esta tua poesia. E não somente esta.
Tua linguagem, Poeta-lindo.
Abraços.
Finalmente leio algo interessante hoje e tinha que ser no seu blog, é claro! rs
"Desejo? Tu sabes,
por que me perguntas?
Ele é bem maior. Projetos bons.
É angustia também, latidos que incomodam.
Se tens um cão em casa, sabes, te acostumas.
Ele late, late, late
e tu fazes
o que tem que fazer."
Adorei!
Bjs
Obrigada pela visita retribuida, rs
Pode add o meu blog sim! É um prazer!
Bjs e bom fds!
Dauri, muito obrigado por comentar no meu blog, fiquei muito realizado qndo vc disse que eu escrevi o texto muito bem...
Um abraço!
Querido poeta,
É sempre uma surpresa agradável, é sempre uma beleza, é sempre uma delícia.Você põe todos os sentidos de pé.
Beijos
"tenho urgências de palavras bonitas."
Aqui encontro boas razões para ser leitora assídua!
Abraço carinhoso
Sem palavras...
bjos e ótimo fds!
Que interessante, Dauri! É como se este poema, ou parte dele, falasse a (e por) mim (pelo que te respondi antes mesmo de te ler).
Mas são muitas as palavras que aqui me calam. Essas palavras, esses poemas e toda a beleza da poesia.
Beijo, poeta!
Cair, levantar,
levantar, cair...
Ginástica da vida.
Bjs ao meu amigo poeta de linhas disfarçadas de relatos magníficos!
To aqui meio sem fala, sem desejos, sem palavras. Suas palavras são fortes, mas tbm me confundem, me aclaram todas as coisas... toda queda me dá preguiça de levantar, mas creio que o vento sempre me levanta para retomar meu voo.
Abraços
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