28 novembro 2008

Amargo de laranja

– Vergonha sempre há, mesmo
quando não se é mais menina...
Delibera outras palavras para mim,
tenho urgências de palavras bonitas.
Não? Vergonha é palavra feia,
cheiro de glândulas, sem sabão.
Me lavo muito, me desencarno,
há um amargo em minha pele, nas dobras,
nas mãos, nas auréolas douradas
onde nasceu o verbo amar,
um amargo de laranja, daquela parte branca.
É. Sou. Verdade. Agra. Branca.
Desejo? Tu sabes,
por que me perguntas?
Ele é bem maior. Projetos bons.
É angustia também, latidos que incomodam.
Se tens um cão em casa, sabes, te acostumas.
Ele late, late, late
e tu fazes
o que tem que fazer.
O sentimento vem fácil,
não dou confiança, verdade,
aborto todos. São pedras lisas,
fundamento onde pisas,
tem que pisar certo. A queda
te espera lamacenta, a cada passo.
Ah... disso não se fala,
...na hora, na hora. Não sei. Verdade.
Na hora voa da mente um pássaro
desabitado de ventos nos ossos,
que me leva e me cai. Sinto
uma vontade de ficar caída,
mas me levanto...

12 comentários:

Dois Rios disse...

Oi, Dauri,

Estava com saudades da força das suas palavras e dos sentimentos crus, rascantes e verdadeiros que nelas constam.
Gosto dessa "contradição" de idéias. Desse fazer pensar que você sempre nos provoca.

Beijos meus,
Inês

lula eurico disse...

Acompanho, entre angustiado e perplexo, quanto pode a arte fazer com a dor humana. Aqui se passa o drama, mesmo fundado na poética. A literatura mais bela tratou da dor humana, vide Górki, Dostoiévski, Victor Hugo e, mais perto de nós Raduan Nassar e o nosso recifense Raimundo Carrero.
Acompanho-te, Poeta, entre perplexo e angustiado...

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Dauri.

Este eu li cinco vezese, te confesso, leria, sem cansar outras tantas.
Sabe, o ritmo e a forma que me levaste a construir, fez-me mergulhar nas "zonas de cais e mangue" e foi um universo de imagens onde o ritmo da linguagem, sobrepôs "Geni e o zepelin" do Chico e as profissionais do sexo "Daspu" estranhamente, em meio à uma angustiante imagem de criança.
Caramba, Dauri.
Que magia tem esta tua poesia. E não somente esta.
Tua linguagem, Poeta-lindo.

Abraços.

Alê Periard disse...

Finalmente leio algo interessante hoje e tinha que ser no seu blog, é claro! rs

"Desejo? Tu sabes,
por que me perguntas?
Ele é bem maior. Projetos bons.
É angustia também, latidos que incomodam.
Se tens um cão em casa, sabes, te acostumas.
Ele late, late, late
e tu fazes
o que tem que fazer."

Adorei!

Bjs

Alê Periard disse...

Obrigada pela visita retribuida, rs

Pode add o meu blog sim! É um prazer!

Bjs e bom fds!

Thiago Laurentino disse...

Dauri, muito obrigado por comentar no meu blog, fiquei muito realizado qndo vc disse que eu escrevi o texto muito bem...

Um abraço!

Rosemeri Sirnes disse...

Querido poeta,

É sempre uma surpresa agradável, é sempre uma beleza, é sempre uma delícia.Você põe todos os sentidos de pé.

Beijos

Eu disse...

"tenho urgências de palavras bonitas."

Aqui encontro boas razões para ser leitora assídua!

Abraço carinhoso

Izinha disse...

Sem palavras...

bjos e ótimo fds!

Anônimo disse...

Que interessante, Dauri! É como se este poema, ou parte dele, falasse a (e por) mim (pelo que te respondi antes mesmo de te ler).
Mas são muitas as palavras que aqui me calam. Essas palavras, esses poemas e toda a beleza da poesia.
Beijo, poeta!

Joice Worm disse...

Cair, levantar,
levantar, cair...
Ginástica da vida.

Bjs ao meu amigo poeta de linhas disfarçadas de relatos magníficos!

Ruberto Palazo disse...

To aqui meio sem fala, sem desejos, sem palavras. Suas palavras são fortes, mas tbm me confundem, me aclaram todas as coisas... toda queda me dá preguiça de levantar, mas creio que o vento sempre me levanta para retomar meu voo.

Abraços