09 maio 2015


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A calçada tem a cor da tarde, quando tudo se cobre com o tom de idéias vagas, cinzas de um fogo que perdeu força para nuvens úmidas, a calçada irregular, quebrada aqui quebrada ali, dessa cor de pedra morta, cimento é pedra morta, como estátua,
e seguir por ali no fim do dia, nem tanto assim no fim, mas já no fim pelos propósitos, voltar para o mesmo lugar, tomar um ônibus lotado e triste com algumas conversas e os gritos sofridos desses vendedores animados de balas e águas que fazem discursos bonitos que ninguém ouve mais, todo mundo sabe as palavras seguintes que eles vão dizer,
ir pra casa, casa onde não gosta de morar, caiu naquele bairro sabe-se lá por qual destino, sentia saudade do morro de onde avistava o mar, onde cresceu, segue e repara naquela calçada sempre, como mania, uma neura qualquer, porque logo ali na frente, depois da loja onde se reforma para-choques, depois de um hidrante que parece destituído de qualquer possibilidade de ter por dentro uma gota d’água, há uma loja de flores,
num lugar em que ele jamais colocaria uma loja de flores, mas ele olha ali, todo dia, quase, uma flor ou outra, que enquanto por ali ele passa ele gosta de olhar, sente que pode um dia levar um vasinho daqueles pra casa,
mas logo que seus passos cruzam a linha da loja, da porta da loja, e que dá a elas, as flores, às costas, esquece-as, e se depara com um parede feia, com urgências de um cuidado, ou muitos, e então ele dá, todo dia, exceto fim de semana, com uma porta que parece escondedora de coisas,
onde daria? quem por ali entraria? mas enquanto se pergunta isso o pensamento se apaga e ele só anda, ou apenas anda...