Estrela caída
Iluminada de umas verdades aprendidas na sonolência
ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar
e interpretar ao bel-prazer a nuvem que vagarosa encobria
o brilho de uma estrela cadente que eu carregava comigo.
Assentada em meritíssima cátedra, sem ouvir meus apelos,
lavrou minha sentença: Saia desta casa!
Pelo viés do meu olhar ela me viu sem me ver,
apressada em mostrar seus conhecimentos e intuições.
O olhar que ela tomou por meu era o dela
e o que nele viu não foi senão o fio traçado pela bala perdida,
aquela que ela detonou num tiroteio festivo
com precipitada certeza
e na opacidade da própria estrela caída.
17 comentários:
Isso de ver sem ver é mais comum do que se pensa, e depois saimos deitando catédra por aí, como se tivéssemos visto. Meu abraço.
já disseram (esqueci quem) que a gente ama no outro, o próprio amor. em muitos casos, vemos no outro o que não gostariamos em ver em nós. e matamos o outro, pra matar nosso medo de ser.
viajei, né? é que poesia faz isso comigo.
eu gosto de te ler!
Beijo
Dauri.. Dauri...
Que beleza, viu?
Rapaz, olha isso:
"ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar
e interpretar ao bel-prazer a nuvem que vagarosa encobria
o brilho de uma estrela cadente que eu carregava comigo"
E depois:
"sem ouvir meus apelos,
lavrou minha sentença: Saia dessa casa!"
Teus versos se comunicaram com minha alma.
Aquele abraço...
Lindo texto, lindo.
Lia suas palavras e ouvi Bethânia cantando, com a voz um tanto sôfrega: "Eu guardo a luz das estrelas" -- mesmo em sua opacidade e transparência.
Abs!
Onde aventura-se que não consegues ver as estrelas?
Esta frase aí de minha autoria guia-me no caminho maior.
E lendo você lembrei-me dela.
Té,
Texto de hoje: CéRebRo...
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O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...
Dauri,
Sinceramente, gostei muito.
É isso, nos vemos nos e através dos olhos dos outros.
Vemos nos outros nossas imperfeições, e, quando não nos damos conta, já culpamos os outros por nossas loucuras.
Um grande abraço,
JEN
Olha para o céu e contempla: cada pequeno ponto brilha nada mais que o reflexo do seu olhar...
Dauri, gostei muito daqui. Permite-me voltar?
Beijos.
poema interessante, forte!
Primeiro quero agradecer pela visita lá no meu mundo.
Segundo quero dizer que gostei muito de suas palavras, sua sensibilidade e a fomra como trabalha bem essas duas coisas.
"O olhar que ela tomou por meu era o dela." Essa frase me marcou mais. Não tem nada a ver com o texto, mas eu fiquei pensando em como, ás vezes, a gente olha o mundo pelos olhos do outro.
Abraço, muito bom ler-te.
Olá Dauri!
Prazer em visitar seu blog. ja lendo algumas coisas!!! boas!
Entre no desangue e fique livre!
Espero mais visitas, da próxima faço um café.
Se "Pelo viés do meu olhar ela me viu sem me ver", também podemos passar sem sermos notados, ou julgar o outro pelas nossas atitudes, reconhecendo nossos defeitos no que pensamos ser defeito no outro.
Seus escritos me fazem sempre refletir.
Um abraço
Ana Paula
isso me lembra os evangelhos e a queda do lucífer, talvez seja pela referência á estrela caída... de todo modo a impressão que me passa é que diz muito mais do que parece dizer apenas... enigmático... já li reli umas quatro vezes...rs
Olá Poeta!
Adorei seu poema, a inspiração do citado romance foi de muita beleza e sensibilidade!
"apressada em mostrar seus conhecimentos e intuições", me faz lembrar algo...
Abraço forte!
Junior, na verdade me inspirei no ultimo romance de Ian McEwan "Na praia" em que ele apresenta o drama do fim de um relacionamento por conta do que cada um "criou" a respeito do outro na própria cabeça. É claro que somei minha experiência como psicoterapeuta - de casais inclusive - ao longo dos anos. Daí imaginei dois personagens - um casal - e registrei no poema a queixa que ele fez ao ir embora de casa.
A estrela cadente tomei como símbolo de sofrimentos pessoais, segredos, intimidades, traumas, complexos, etc. A estela dela já é caída, ao invés de cadente, pois pelo fato de romper com ele, ela já não tinha senão opacidades, confusão. Ainda, todos temos - ou somos - uma estrela cadente, e o brilho que temos é exatamente, e tão somente, esse. Nem te perto - ou conscientemente - me liguei ao mito do anjo caído.
Bom falar dessas coisas pela poesia. cada um vê de um jeito e é isso que importa. afinal isso se pretende um simples poemeto.
é... de fato eu viajei na interpretação... mas de todo modo mostra esta coisa do relacionar-se com o outro... com quem tá perto... com quem interfere ou não nas nossas vidas.... obrigado pela explicação...rs
abraços
"ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar"
Lindo, como sempre lindo!!!
Adoro ler suas palavras...
Bjos
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