22 fevereiro 2008

Estrela caída

Iluminada de umas verdades aprendidas na sonolência
ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar
e interpretar ao bel-prazer a nuvem que vagarosa encobria
o brilho de uma estrela cadente que eu carregava comigo.
Assentada em meritíssima cátedra, sem ouvir meus apelos,
lavrou minha sentença: Saia desta casa!
Pelo viés do meu olhar ela me viu sem me ver,
apressada em mostrar seus conhecimentos e intuições.
O olhar que ela tomou por meu era o dela
e o que nele viu não foi senão o fio traçado pela bala perdida,
aquela que ela detonou num tiroteio festivo
com precipitada certeza
e na opacidade da própria estrela caída.

17 comentários:

Anônimo disse...

Isso de ver sem ver é mais comum do que se pensa, e depois saimos deitando catédra por aí, como se tivéssemos visto. Meu abraço.

Loba disse...

já disseram (esqueci quem) que a gente ama no outro, o próprio amor. em muitos casos, vemos no outro o que não gostariamos em ver em nós. e matamos o outro, pra matar nosso medo de ser.
viajei, né? é que poesia faz isso comigo.
eu gosto de te ler!
Beijo

Isaque Viana disse...

Dauri.. Dauri...
Que beleza, viu?
Rapaz, olha isso:

"ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar
e interpretar ao bel-prazer a nuvem que vagarosa encobria
o brilho de uma estrela cadente que eu carregava comigo"

E depois:

"sem ouvir meus apelos,
lavrou minha sentença: Saia dessa casa!"

Teus versos se comunicaram com minha alma.

Aquele abraço...

:: Daniel :: disse...

Lindo texto, lindo.
Lia suas palavras e ouvi Bethânia cantando, com a voz um tanto sôfrega: "Eu guardo a luz das estrelas" -- mesmo em sua opacidade e transparência.

Abs!

R Lima disse...

Onde aventura-se que não consegues ver as estrelas?

Esta frase aí de minha autoria guia-me no caminho maior.

E lendo você lembrei-me dela.

Té,




Texto de hoje: CéRebRo...

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Jorge Elias disse...

Dauri,

Sinceramente, gostei muito.
É isso, nos vemos nos e através dos olhos dos outros.
Vemos nos outros nossas imperfeições, e, quando não nos damos conta, já culpamos os outros por nossas loucuras.

Um grande abraço,

JEN

Anônimo disse...

Olha para o céu e contempla: cada pequeno ponto brilha nada mais que o reflexo do seu olhar...

Dauri, gostei muito daqui. Permite-me voltar?

Beijos.

Leandro Jardim disse...

poema interessante, forte!

Filipe Garcia disse...

Primeiro quero agradecer pela visita lá no meu mundo.

Segundo quero dizer que gostei muito de suas palavras, sua sensibilidade e a fomra como trabalha bem essas duas coisas.

"O olhar que ela tomou por meu era o dela." Essa frase me marcou mais. Não tem nada a ver com o texto, mas eu fiquei pensando em como, ás vezes, a gente olha o mundo pelos olhos do outro.

Abraço, muito bom ler-te.

Assis disse...

Olá Dauri!
Prazer em visitar seu blog. ja lendo algumas coisas!!! boas!

Entre no desangue e fique livre!

Espero mais visitas, da próxima faço um café.

Jacinta disse...

Se "Pelo viés do meu olhar ela me viu sem me ver", também podemos passar sem sermos notados, ou julgar o outro pelas nossas atitudes, reconhecendo nossos defeitos no que pensamos ser defeito no outro.
Seus escritos me fazem sempre refletir.
Um abraço
Ana Paula

fjunior disse...

isso me lembra os evangelhos e a queda do lucífer, talvez seja pela referência á estrela caída... de todo modo a impressão que me passa é que diz muito mais do que parece dizer apenas... enigmático... já li reli umas quatro vezes...rs

Anônimo disse...

Olá Poeta!

Adorei seu poema, a inspiração do citado romance foi de muita beleza e sensibilidade!
"apressada em mostrar seus conhecimentos e intuições", me faz lembrar algo...

Abraço forte!

Dauri Batisti disse...

Junior, na verdade me inspirei no ultimo romance de Ian McEwan "Na praia" em que ele apresenta o drama do fim de um relacionamento por conta do que cada um "criou" a respeito do outro na própria cabeça. É claro que somei minha experiência como psicoterapeuta - de casais inclusive - ao longo dos anos. Daí imaginei dois personagens - um casal - e registrei no poema a queixa que ele fez ao ir embora de casa.

Dauri Batisti disse...

A estrela cadente tomei como símbolo de sofrimentos pessoais, segredos, intimidades, traumas, complexos, etc. A estela dela já é caída, ao invés de cadente, pois pelo fato de romper com ele, ela já não tinha senão opacidades, confusão. Ainda, todos temos - ou somos - uma estrela cadente, e o brilho que temos é exatamente, e tão somente, esse. Nem te perto - ou conscientemente - me liguei ao mito do anjo caído.

Bom falar dessas coisas pela poesia. cada um vê de um jeito e é isso que importa. afinal isso se pretende um simples poemeto.

fjunior disse...

é... de fato eu viajei na interpretação... mas de todo modo mostra esta coisa do relacionar-se com o outro... com quem tá perto... com quem interfere ou não nas nossas vidas.... obrigado pela explicação...rs

abraços

Anônimo disse...

"ela se deu o direito de ler todos os dias o meu olhar"

Lindo, como sempre lindo!!!
Adoro ler suas palavras...

Bjos