08 março 2011

Inesperado sol

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Ouvia um bater de martelo em ferro, Estelita ouvia um tinir que se associava a viagem, uma pétala arranhada, um pouco amassada, deslocada do conjunto da rosa, ia sendo retirada por uma mão leve e decidida, via nitidamente, a outra pétala, sua próxima, era deixada, via por um olhar que se esconde por detrás do olhar, por detrás da retina, por detrás do corpo onde corriam filões de ternura resistente, ternura por todos os que estavam ali e pelos outros, sentia vontade de dizer obrigado pela presença dos amigos, estava numa estação, o trem ia partir, da estação se leva uma alegria e várias tristezas, ouvia uma voz, mas logo as tristezas serão preenchidas por paisagens ligeiras, passando, passando, ficará a alegria manchada de tristeza até o tempo apagar as duas, era o repique como de um sino, não tão límpido como de um sino, mas bonito pelo compasso, alguém que ia com um martelo batendo nas rodas do trem antes da partida, um teste, um carinho repetido muitas vezes por um funcionário da ferrovia sabedor de suas responsabilidades, o aroma de plantas amanhecidas de um suave frio invadia suas narinas, Estelita respirou um pouquinho mais profundamente, todos se entreolharam naqueles silêncios mesclados de melodiosos rumores que vinham lá de fora, uma voz e outra, aqui e acolá, um passarinho também, qual seria?, passarinhos de meio de ano, ainda não, ainda abril, nascera em setembro, não gostava de abril, ainda media o tempo, mesmo que usando uma linha frouxa, mas media, sabia que era abril, seria em abril o seu dia, outro dia, aquele que se contrapõe ao primeiro, queria segurar-se até maio, neblinas frágeis chegavam, dizia a voz, mas logo haveriam de se dispersar com a luz do sol.

9 comentários:

Dauri Batisti disse...

Amigos,

vou me despedindo do INESPERADO SOL, e faço isso com uma certa nostalgia, me acostumo com o cenário, com as personagens, com suas visões de mundo, sinto um certo pesar em dar fim à história; mas já é hora, penso, a net não comporta algo muito extenso.

Agradeço os que seguiram comigo quando postava com frequência, e quando o corre-corre da vida me impedia de ser mais rotineiro nas postagens.

Já vou com um novo texto em sementes, alguns frases já escritas, as idéias se articulando. Depois do INESPERADO SOL vou passar a postar um conto - talvez mais curto - OS ÁSPEROS FRUTOS DOS INSTANTES. Se você me der o prazer da sua leitura e das suas observações vou gostar e agradecer.

Por ora seguimos com as últimas postagens do INESPERADO SOL.
OBRIGADO.
BEIJO.

Samaryna disse...

Dauri, eu estou substituindo o Eder no Gotas de prosias e vou logo dizendo que me encantou a forma como vc escreve, vejo muitos símbolos na tua escrita. Aproveito para lhe convidar para o meu primeiro texto. Deixo o meu afeto.

MARIA HELENA disse...

O "Inesperado sol"trouxe-me lazer e muita reflexão.Gostei e amei cada capítulo,cada frase.
Estou sentindo também uma certa nostalgia.
Abç.

Zezé da Música disse...

Ah! Que pena! Este Inesperado Sol, já estava sendo para mim, Esperado Sol.Mas, a vida é assim. Vamos viver o hoje, e amanhã que Deus o ilumine para escrever coisas lindas para nós. Sucesso no próximo! Parabéns! Zezé

Vivian disse...

...Dauri querido,

hj venho apenas beijar
tua alma!

muahhhhhhhhhhhhh,
alma linda!

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Dauri...inesperado são as suas palavras, as expressõs que você tão bem usa ao compor seus contos
Que esse redemoinho de idéias que habitam em tua mente te permaneçam...
Um abraço na alma

Jacinta Dantas disse...

Alguns dias longe da Net e, quando volto, três capítulos a mais. O trem, os sons, a paisagem e Estelita, nova personagem que chega com jeito de quem vai desarrumar(?)

Por aqui, a vida segue, em contos e contos. Nasceu Daniel, o filho de André.

Beijo

Ilaine disse...

Dauri! Penso que Estelita está por se despedir... para sempre. Lindo, lindo. Destaco esta frase: por detrás do corpo onde corriam filões de ternura resistente, ternura por todos...

Filoões de ternura - bonito demais!Beijo

Então estarei esperando pelos "Ásperos frutos dos instantes..." - o título, a começar, é belo.

Loba disse...

como a ilaine, me encantou este "filões de ternura". nunca tinha pensado em ternura como algo que corre pelo corpo!