23 outubro 2009

Sacolas plásticas III

Veio um vento
de onde não se sabe. Frio
não era, não era do sul
portanto. Nordeste de todo dia
também não. Era
um vento do chão. Subia
levantando uma sacola.
Ela se ia cheia, poeira
pra todo lado, poeta num livro
enfeitado. Ela subiu, subiu,
asas de um pássaro assanhado,
alma feliz sem saber
que morreu. De repente
o vento doido juntou
os lados plásticos da sacola.
Murcha ela desceu
torta, tonta, vazia. Quem
passava viu.

11 comentários:

Katrina disse...

Engraçado, tudo que ganha o ar, ganha um tom poético. Adorei mesmo

Paula Barros disse...

Ai, Dauri, como me inquieta ler você. E fico rindo com minha inquietação.

Me sentindo uma sacola rodopiando no vento...subindo...subindo...tonta..raios de sol a me iluminar, o firmamento como o limite dos voos da imaginação..

Vou voltar (do rodopio) para comentar, sem cair no chão.


beijo, lindo sábado de bons ventos.

Paula Barros disse...

Essa sacola cheia, que voa, que sobe e que murcha desce, me lembrou das impossibilidades impostas pela da vida.

Da razão que briga com a emoção. Dos sonhos que não podem ser vividos. Dos voos rasantes que temos que dar na vida. Rasante no sentido de não se distanciar da realidade. Os limites. O pé no chão, mesmo quando a emoção voa.

Forte isso - "alma feliz sem saber que morreu"

Lindo isso - "poeta num livro enfeitado"


(sorrio, emocionada, e te digo baixinho - é impossível ler você e não me ler)

beijos na sua alma.

Dauri Batisti disse...

Querida Paula, com esta série faço uma gozação. De quem eu debocho? Ora, dos poetas. Estes dias fiquei numa livraria um tempo lendo os elogios - extensos - dos amigos a um poeta de São Paulo. Achei engraçado, eles se levam muito a sério, Deus me livre. Então ali, rindo, decidi escrever poemas sobre sacolas plásticas. Você me entende? Dentre outras coisas, por isso me considero não-poeta. Minha ingênua rebeldia não permite.

Beijo.

Paula Barros disse...

Dauri, eu não entendo muita coisa. Ou melhor, talvez eu não entenda nada.Eu só sinto quando leio. E as palavras saem.

Muitas vezes não as deixo aqui, porque fica grande o comentário, e vira até post.

Poeta! Poeta...Poeta? Poeta. Eu não sei o que é poeta. Eu só sinto o remexer por dentro. Eu só sei do que fala comigo.

Desculpe, se lhe inquieta, ou até chateiam meus comentários. Ao ponto de ter de se explicar.

abraços

Anônimo disse...

VOCÊ É UM GRANDE POETA, MAS POR SE ACHAR TÃO GRANDE, ACHA POUCO SER POETA. VOCÊ É MUITO POETA. DOIS BEIJOS POETA.

Dauri Batisti disse...

Caro anônimo,

não me vejo como poeta, muito menos grande. Pena que você não tem me entendido.

Ser um não-poeta significa afirmar que a poesia - e escrever poemas - está ao alcance de qualquer pessoa. Isto tenho proposto. Isto tento fazer.

Benvindo sempre!

Abraço.

Paula Barros disse...

Dauri, bom dia!!!

O poder da palavra, escrita ou falada, está em tocar os corações, a imaginação, a mente, a alma...é o poder de transformar, quando se mistura com o que temos dentro de nós, com a escuta que cada um precisa escutar.

Não se preocupe com definição, deixe suas palavras virem ao mundo, e cada um as colher conforme a necessidade pessoal, e se alimentar delas.

muita paz, e muita escrita. beijo

Anônimo disse...

Só um olhar de criança é capaz de olhar uma sacola que voa e enxegar um passáro...
Deus preserve sua sensibilidade e sua humanidade.
Forte e fraterno abraço!
Charles.

Paula Barros disse...

Dauri, cadê tu? Muito ocupado? Você sabe que preciso viajar nas suas palavras, sou andarilha de asas. rsrsrs

Mesmo que eu pegue suas palavras e faça uma "doidiça" só com elas.

Aguardando!

beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Querido Dauri, eu lembrei muito de vc. estes dias e morro de rir quando venho aqui e leio a tua rebeldia e teimosia. Muito bom.
Me faz bem vir aqui e sorrir com tua 'lezeira' sensível como a ingenuidade das crianças.
E leio a Paulinha que sente tanto ou mais que eu, não tu seres um não-poeta, mas a pureza dessas palavras que escolhes ou colhes em teus 'issos'.

beijos, amigo.