08 outubro 2009

Acho que vou encerrar esta série
de poemas - o que contais? - hoje.

VI
(O que contais?)

Ele teve um sonho, mas... ter
é punhado de areia na mão.
Logo a mão e a areia serão um.

Ele sonhou
que poderia ser deus,
no entanto, apenas
enquanto dormisse.

Ao acordar até poderia usar o excesso
do ser deus. Poderia
retirar da pele fragmentos de luz
e fazer assim uma limpeza
da poesia grudada no corpo.

Sapatos, asas, destino,
tudo seria deixado
na soleira da porta de entrada,
e tudo tomado de novo, na saída,
depois do amor.

O que se conta,
incertas verdades, é lâmina
afiada em pedra corisco,
algo que verte:

poema
não carece disso ou daquilo,
basta interromper um rio
e romper-se líquido em outro.

15 comentários:

Carla disse...

Encerras a série com um poema de ouro. Bom demais.

Bjos

Juliano disse...

E para retirar da pele essa luz, essa limpeza, basta fecharmos os olhos entrelaçar os dedos e rezar.!

Abraços Dauri

Germano Viana Xavier disse...

"poema
não carece disso ou daquilo,
basta interromper um rio
e romper-se líquido em outro. "

E tu vens a mim e ainda diz que não és poeta, Dauri Jack?!

Continuemos...

[ rod ] ® disse...

sua transposição é perfeita... faz de obscuras palavras uma luz poética sem fim... abs.

Betho Sides disse...

Belo texto Dauri...Concordo com Rod, perfeita transposição!
O motivo de minha visita é além de conhecer esse espaço falado na net, tbm aproveito para convida-lo a participar do 1º Encontro Nacional e logueiros em Dezembro deste ano + informações no blog:
http://bethosides.blogspot.com/
Terá lançamento de livro, exposiçõ de arte e muito mais...
Forte abraço
Betho

Paula Barros disse...

Poema

...é minha verdade, as verdades do momento escrito, do momento lido.
...é o que me deixa ter asas nos pés, ou pensar que faço amor com as palavras, por deitar nelas minhas emoções.
...fala por mim, fala de mim, me deixa mentir, me deixa me esconder, mas me mostra. Só para quem sabe ler por baixo da minha pele em arrepio.
...não é meu todo, é minha parte, é meu minuto, o último suspiro, a última gota...
....é o que me cala, o que me grita, o que me instiga. O não visto, o não tocado. O muito sentido. Sem sentido, por vezes
...é a janela aberta, que entrei voando. É a porta fechada que tento entrar.



(Dauri, nunca mais tinha escrito aqui deixando sair, e sempre levo, mas nem vou reler e vou deixar e depois volto...)

Paula Barros disse...

Dauri, muitas vezes fico pensando no seu processo criativo.E para mim, vou acreditar, que é assim.

"Ao acordar até poderia usar o excesso
do ser deus. Poderia
retirar da pele fragmentos de luz
e fazer assim uma limpeza
da poesia grudada no corpo."


Feliz por ler você, por sentir seu rio (de palavras e emoções) me percorrer, inundar meu rio (do ser).

um beijo na nascente...

Sueli Maia (Mai) disse...

E são vazios punhados de palavras feito areia na mão que escoa e fica a mão em punho cerrado e o nada na mão.
É vão.
Beijo

Rabisco disse...

Olá!
Gostei mesmo desta série de poemas...
Especialmente este...muito!
Ainda que com uma mão vazia daqui saia...saio com a alma cheia.

Abraço

Valdemiro disse...

Um poeta que é Deus enquanto sonha.
E exercita sua divindade enquanto escreve.

Muito bom, Dauri.
Abraço.

lula eurico disse...

E se estar acordado fosse um sonho, e dormir fosse a verdadeira realidade? rsrsrs
Deus, ó Deus... devolva-me os
meus sapatos, minhas asas, meu destino.
Ah, e quero amor dos dois lados da soleira. rsrsrs

Abraçamigo, meu irmão .

Abraão Vitoriano disse...

os sonhos
e muita disciplina neles,
isso sim.

abraços,
e espero novos poemas ansioso...

Maria Helena disse...

Repetindo o Rabisco, saio daqui com as mãos vazias mas com a alma cheia,realmente repleta do que gosto. Pena que nem todos têm dentro de si um rio para interromper e fazê-lo escorrer pela mente transformando-o em poesia.
Lindo!
Beijo
Maria Helena

Paula Barros disse...

Nossa! Vim ler as novidades. Espero que tenha viajado, que esteja bem, e que esteja sempre sonhando e realizando e escrevendo.

beijo, bom dia!

Germano Viana Xavier disse...

Passando e fazendo a recifração.

Continuemos, Dauri Jack...