28 maio 2009

(tentativas de explicação: ser um não-poeta, afirmar a poesia)

VIII

Escrever poemas
não me faz poeta, mas me faz
percorrer o pequeno caminho
entre a sala e a cozinha por onde atravesso
vales, planícies e alguns precipícios.
Me dou de cara com o vento e me vejo arraia
numa fieira de palavras que escorregou
das mãos de um menino.

VII

Escrever poemas
não me faz poeta, mas me faz
buscar a dose parca de remédio que me alivia
da loucura que me roubaram.
Se derramam enquanto isto as canetas
daqueles depósitos de pensamentos.
Desdigo o bem-te-vi antes que ele
me tome a próxima dose.

VI

Escrever poemas
não me faz poeta, mas me faz
olhar no sentido contrário ao por-do-sol
para ver na luz rebatida nas coisas
os movimentos antecipatórios
de quem se prepara pra nascer.
A cruz quebrada não deixa
de marcar a saudade.

V

Escrever poemas
não me faz poeta, mas me faz
fechar os olhos e tocar a campainha
de uma biblioteca,
uma casa, a minha,
onde encontro o abandono.
Nele me deito e leio
todos os livros do teto.

14 comentários:

Ava disse...

Escrever poemas não me faz poeta...

Te faz, Dauri, ser um mistério...

Um poço de sonhos secretos onde a a lua faz sua coreografia de pura magia e a gente quer se afogar...rs


Beijos avassaladores!

eder ribeiro disse...

é no que não se faz, que fazendo, o poeta o é, pois o sentimos assim. Abçs Grande Dauri.

:.tossan® disse...

Escrever poemas não me faz poeta, mas me faz bem, me leva ao Rio Bonito, me faz jorrar descobertas!
Te ler me faz bem, me faz pensar e aprender que só as palavra não bastam. Abraço

Paula Barros disse...

Quanto mais você tenta explicar o não-poeta, mas me instiga e emociona. Faz desprender de mim palavras.

beijo

Paula Barros disse...

O não-poeta

Pega as palavras no fundo do baú pensamentos.
Sopra para tirar a poeira e despertar lembranças.
Fica com elas nas mãos.
Passa de uma mão para outra embalando em sentimentos.
Canta uma cantiga de ninar que vem da alma.
Algumas palavras choram, outras sorriem.
Então o não-poeta as desperta com carinho.
Acaricia, amacia, molda.
Vai juntando uma a uma com a mais perfeita harmonia.
Sempre conversando com elas.
Passando em cada ato o cuidado
Com a preocupação em não machucá-las.
Não causar danos aos sentimentos.
Pelo contrário, tirando delas a beleza,a essência, o mais puro cheiro da emoção.
Com a alma dá um polimento, descobre um brilho nas palavras que só ele, o não-poeta, sabe dar.
Mostrando-se presente em cada frase.
Depois volta a soprá-las.
Só para vê-las voar.



beijo

Ava disse...

Dauri, peço licença para aplaudir a Paula...

Essa moça esta um arraso!

Beijos para vc!

Deusa Odoyá disse...

Olá meu amigo poeta.
Eu em tudo comcordo com a paula, ela nesse comentário falou tudo em relação ao seu poema.
Está completa sua resposta.
Parabénsa ela e a vc. meu jovem e talentoso poeta.
Mas, mesmo assim acho que ainda falta algo para completar.
Um amor declarado a alguem, pois não te sentirias tão só, como no seu poema.
Lindo, divino e muito inspirado.
Beijinhos doces, meu amigo.
Regina Coeli.

Dauri Batisti disse...

Querida Deusa,

obrigado pela vista e pelo carinhosos comentário. Só faço uma pequena e terna observação a respeito da sua sugestão. Ao escrever aqui no ESSAPALVRA não faço confissões ou expresso meus particulares, mas viajo, deliro, brinco, crio. Quando falo de mim, ainda assim é uma fala transmutada em autoficção. Um beijo.

Sueli Maia (Mai) disse...

Luz de sol nascente. Palavras em fila indiana esperando prá desfilar e depois, deitar no papel ...
Estás especialmente alquímico.
Me ensinas a cada poema.
Beijo você.

Carinho,
Mai

Carla disse...

A cada poema escrito, uma viagem diferente, e todas com o mesmo sabor - a poesia.

Bjos

Sueli Maia (Mai) disse...

Se o Pessoa sobre a pessoa que escreve poesia ou versos, disse ser um fingidor, de fato ao menos para mim, jamais foste poeta.

Se o poeta é um fingidor e se sinto a verdade em tuas palavras, eu me quedo. Não, não és um poeta.

És um não-poeta.

A beleza para mim está na verdade e a beleza da verdade me emociona. Se ao ler os teus poemas eu sinto verdade, e se a verdade para mim é a beleza, o que sinto me emociona por ser verdade e beleza.

Se a minha emoção vem dos poemas que escreves e se me emociono com a beleza da verdade, teus poemas são a verdade e beleza em ti.

Mas se a emoção que sinto vem da tua poesia e se esta é a verdade e a beleza que emana de ti, a tua poesia és tu?
Se for assim, tu és não-poeta.

E TU serias simples, então.
TU és não-poeta porque és simples poesia?

Beijos.
Mai

Germano Viana Xavier disse...

Tem já dias que não consigo escrever um poema sequer. E aqui o poema corre solto. Sinal de bem-aventurança.

Porto e belvedere da boa pa-
lavra.


Abraço forte, Dauri Jack.
Sigamos...

Paula Barros disse...

Se tem momentos lindos e belos e que me emocionam, esse falou mais forte.

" mas me faz
buscar a dose parca de remédio que me alivia da loucura que me roubaram"

Não demora a atualizar, ok?

abraços, ótimo domingo.

Unknown disse...

Você deve pensar sempre: nossa, a pirralha que vem aqui, comenta qualquer coisa e sai. Mas é que, na boa, eu não entendo quase nada de poesias. Estudei um pouquinho, porque tinha que saber sobre tudo relacionado a escrita. Mas não posso analisar. Somente comparo. Existem alguns blogs que eu entro e penso: que coisa chata, o que eu tô fazendo aqui? Só que mesmo sendo nova, aqui é um lugar que eu gosto de vir, ler, sentir o que você quer passar com as palavras, entende? Mesmo só deixando um "Gostei" nos posts, pode ter certeza que eu li e gostei de verdade.