13 abril 2009

II

Páginas rasgadas pela rua,
a via, a vida, sacra, história
tão bonita. Bonita?
somente à distância. Dia-dia. Isto.

A cabeça parecia girar, parecia ou girava,
girava a lua, a praça, a rua.
Já era noite. A noite chega tão sorrateira.
O sol derramado, escorrido
escreveu o fim do capítulo
sem janelas, sem saídas... ainda preso.
Mais um dia. Este é o dia que o senhor fez?

Pelo amor de Deus... ainda preso. Não!
Preso não, cego. Ainda preso... ou cego.

Devoravam a luz os espantos, os medos,
as correntes. Folhas ao vento,
assim pareciam seus rumos. O que se quis,
acabou na cruz. Todo dia
uma cruz. Carregar cruz todo dia,
cá entre nós, cansa. Desanima.

Não há cristão que resista.

Mas ainda há força para sonhos, tateia-se frestas.
Pelos vidros do ônibus desenha-se sucessos,
avista-se o porto, as pontes. A própria casa.
No jardim pequeno, de despedidas,
dançaram os pés que se foram embora. O menino
e sua bola, e os carrinhos. A lembrança!
Um animal trevoso pisoteou o jardim.

Parecia que ia morrer. Pensou: consumar-se-á
o destino. Estirou-se no sofá.

Umas janelas estão abertas. Não aquelas
que se quis. Mesmo que não se abram as outras,
há uma luz...
...de um amor que se decide ter. Única luz.

Todos os entendimentos se submeterão
a ele.

6 comentários:

Leandro Jardim disse...

Sempre bom, meu caro Batisti, percebo um tom um pouco diferente nesse poema, talvez mais leve, talvez devido a essa luz... enfim, belo!

grande abraço,
Jardim

lula eurico disse...

Quando há uma luz para o entendimento, uma luz "de um amor que se decide ter", estamos pacificados. Não há mais discórdia, pois o amor que escolhe, ou que se decide colher, é cordial. Apesar da crueza dos dias...

Anônimo disse...

Nossa, cara, nunca tinha visto a Páscoa e a via sacra desse ponto. Muito bom, adorei :)

;*

Ava disse...

Dauri, tão forte teu poema!
Leio e sinto uma força estranha...
Não sabaria explicar... apenas sinto!


Beijos e carinhos!

Anônimo disse...

Vida rima com cruz não é!? Vida viva, sangue quente e pulsante.
Parabéns, sua poesia humaniza.
Paz e bem.
Fraterno abraço.
Charles.

Paula Barros disse...

Lendo, sentindo falta de ler como gosto.
Me emociona.
Pensamentos rodopiam em velocidade pela mente, emocionando.
beijo