(sigo com a nova série de poemetos.
O cenário é uma grande cozinha
onde uma criança recolhe seus sentimentos)
II
Ficávamos naquela penumbra santa
em que o altar ardia ainda mais
no retângulo da grande cozinha.
Me emudecia sem querer, olhava, olhava.
Nada. O mundo lá fora turvo, estranho.
Dentro de mim também um mundo
me inundava de águas frias, ventos.
Minha mãe onde estaria?
Eu precisava descer, ir ao córrego, tomar banho.
Mas não ia. Esperava primeiro o escuro vencer de vez
a hora triste, aquele círculo entre a felicidade e a saudade.
Era disso que eu sofria. Sofria de uma dor
que não doía em nenhuma outra hora do sol e da noite.
Eu era feliz em todas elas: nas que amanheciam,
nas que corriam passando pelo meio-dia. Pássaro
junto aos pássaros, vivo, livre; cavalo à tarde
solto em meio aos pastos, doce, agreste,
saudável; garapa no balde, transbordamento
de vida totalmente presente. Nem passado, nem futuro.
A mãe não existia. A não ser quando o dia chegava ao fim,
naquela hora. Era dela que eu sofria. O tempo ali,
logo antes do pôr do sol, logo depois do pôr do sol,
me adoecia de sua falta. Insuportável. Insuportável.
Onde ela estaria? Mãe! O dia se ia...
eu não sabia
...que a vida era assim.
17 comentários:
Antes de ler o "poemeto", só li que o cenário é uma cozinha.
Gosto de dizer o que sinto, assim como você saberia, não é?
Quando vi seu blog atualizado, o coração disparou, e pensei, nossa! essa série promete, parece que vai ser dinâmica. Depois fiquei pensando se seria bom ler com o coração destrambelhado assim.
Mas vou arriscar...
Sua palavras impulsionam, e falando de criança vai despertar minha crinça, ou melhor, lendo você numa outra série me vi com cinco anos...e isso vai servir para melhorar a adulta que está em mim.
um abraço especial
Eu sabia que não devia ler com o coração galopando destrambelhado...estou chorando. Eu volto.
Choro eu, ou chora a minha criança? As duas. bjs
E na cozinha crianças observam adultos e quando podem recolhem louças vazias...
Essa série promete.
Sentir que não importa a idade que se tenha, há sempre uma criança ali.
beijo.
QUERIDO DAURI, SEJA QUE TEMA FOR A TUA ESCRITA É SUBLIME, CARACTRÍSTICA DE QUE É APANÁGIO TEU... BOA TARDE DE DOMINGO!!!
UM ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA
Vim caminhar por aqui. As fotos estã magníficas. Ajuda a viajar e sentir. A emoção das palavras junto a neblina nas montanhas, a estrada de barro levando pelos caminhos da mente.
Fantástica a idéia de colocar as fotos.
(se escrevo aqui deixo de escrever os post rsrsr, hoje depois de ter vindo aqui borbulham palavras em mim.)
Eu não se como as palavras se entrelaçam dentro, em, com vc. Sei que fluem como se fossem fáceis.
Mas sei o qto elas podem ser dficeis às vezes. Especialmente se querem dizer tanto e de tantos.
Beijo!
Adoro o que escreve...essa série então tá cheia de lembranças, suas e as que brotam em nossos pensamentos, da nossa infância, de qdo tudo era tão simples, tão puro, onde só nos preocupávamos com algo qdo sentíamos falta...
Tem muita ternura dentro de vc, gosto disso!
Bom domingo Dauri,
bjo carinhoso.
* Interior do Espírito Santo...será que conheço?
...ví aqui a criança
latente que existe
em você,
e ela com certeza
é seu norte para
poemar como faz aqui.
as fotos me trouxeram PAZ!!
bj
As lembranças da infância são sem sombra de dúvida um balde de inspiração!
Beijos.
As tuas palavras pulsam, Dauri!
Vi nos teus versos a criança que eu fui, ainda que sempre tive mãe presente mas, ao contrário dos teus versos, eu é quem me buscava nela e não me encontrava. Tinha medo de descobrir que não tinha "saído" da sua barriga.
Lindamente triste!
Beijos,
Inês
Tal mar
tal o coração...
em marés tenazes
e ardentes
espelhos das
poesias
Abraço
"Era disso que eu sofria. Sofria de uma dor que não doía em nenhuma outra hora do sol e da noite.
Eu era feliz em todas elas: nas que amanheciam, nas que corriam passando pelo meio-dia."
É impressionante o efeito das suas palavras.
(seu comentário depois vai para o meu cantinho especial, gostei muito)
Minha criança aguarda atualização, para saltitar dentro de mim.
beijo
OLá Dauri, fazer poemas é viajar por estradas em que também nunca estivemos...ou não...
Estas suas fotos então...uma verdadeira viagem...um abraço na alma amigo
Admiro a facilidade com que tu produz teus versos, Dauri. E com a qualidade deles. E sempre vejo imagens de mim em tuas estrofes.
Deixo um abraço.
Continuemos...
sempre belo e denso, rico e sensível. abraços, Dauri.
perceber,construir imagens, lacrimejar nossos olhoas, fazer nos mais humanos, mexer com a fragilidade, nos torna mais fortes, mas reais.
Obrigado poeta!
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