14 fevereiro 2009

(depois da série Conta as estrelas... me proponho a escrever outra,
bem diferente. O personagem é uma criança, num mundo longe,
dentro de algumas tardes. Quem quiser acompanhar a série,
seja benvindo.)

I

Eu não percebia,
as horas passavam.
A vida era infindável,
mas algo me agoniava.
Eu sofria e não entendia.

Um inferno se abria ali

numa greta qualquer entre o coração e a garganta
quando vinha um certo ar no sol poente
que desandava o cantar dos galos pelo fim da tarde.
Que agonia. Era um canto igual ao da madrugada,
mas diferente. Doía. Eu tinha tão poucos anos

e caía num poço de mistérios

e desprazer. Restava suportar a dor
e esperar que tudo ficasse bem escuro, logo.
Ou noite ou dia.
Era disso que eu sofria,
eu sofria das horas de um dia. Sem saber.

Logo antes do pôr do sol, logo depois do pôr do sol,

no calor da cozinha,
olhando as montanhas que se cobriam de escuridão,
me entristecia todo, inteiro,
das mãos aos fundos dos nervos.
Era disso que eu sofria,

de certas horas de um dia. Sem saber.

O dia se ia...
e eu... não sabia...

que a vida era assim.

9 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Olá Dauri, este poema texto, texto-poema ou como quer que você o classifique ou não, é um grito, vindo lá do longe, onde mora a solidão...
Mas a vida, as vezes é assim...Como sempre um prazer ler os seus escritos...um abraço na alma

Sueli Maia (Mai) disse...

palavras de um pensamentosentimento de uma criança triste?
Uma criança velha? Fiquei curiosa prá ler ouvindo e vendo um pouco mais dessa criança.

Lembrei que fui uma criança silenciosa até uns 7 anos falava mas fala pouco e baixo falava mais para duas pessoas meu vô pq ninguém quase falava com ele. Nós dois falávamos, ríamos e brincávamos mto. Hj. penso qele tinha a minha idade ou eu a dele. Falava para o meu pai qd bebia e ninguém tinha paciência com ele. De novo, ou eu tinha a idade dele ou ele qd alcoolico, a minha.

Por muitas vezes me vi distante, quase autista. Falava prá dentro e dentro tinha uma menina que era uma peste de brava daquilo tudo...

Mas chorava as dores do mundo.
Uma criança velha.
Hj. sou uma mulher que brinca de ser criança com outras crianças...
Eu hein...
Lá vem teus 'issos' mecher com os meus aquilos...

.....

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO DAURI, BELÍSSIMO TEXTO/POÉTICO... SUBLIME AMIGO!!!
VOTOS DE UM BOM FIM DE SEMANA, BEIJINHOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

Ava disse...

"numa greta qualquer entre o coração e a garganta..."
Deve ser nessa greta que vez por outra da-se um nó....
E os olhos enchem de lágrimas...
É a raiz de todo sentimento!
Essa greta quando doi.. É hora de de sair o grito!
Lindo o Poema...

Qua delicia saber que voltaste....
A casa é e será sempre tua...rs


Beijos avassaladores!

Carla disse...

De uma forma ou de outra, a infância, de vez em quando, volta.
E a do eu-lírico voltou na forma de um belíssimo poema.


Bjos

Joice Worm disse...

Oi Dauri, que engraçado... Estou escrevendo um conto em que o personagem está em uma situação que não sabe explicar. Lendo seu texto, parecia que eram pensamentos dele... Adorei!!!
(Estou muito sumida, mas não me esqueci de ninguém. Amanhã é dia de descanso e tenho que me actualizar. Estou cheia de saudades!)
Muac para ti na ponta dos dedos!

Paula Barros disse...

Quando criança não entendemos algumas coisas, e por vezes carregamos o resto da vida, as interrogações, as perguntas sem respostas, as interpretações equivocadas e que tornam-se verdades dentro de nós.

Pretendo acompanhar a série. Gosto das suas séries. Umas mexem mais comigo.

Começando a caminhada pela séria já emocionada e aguardando.

beijo, ótimo domingo!

eder ribeiro disse...

e assim nos vendem que um dia é diferente do outro, mas repetitivo como a vida, não passa de monotonia. Arrasou neste poema. Aplausos. Abçs.

Anônimo disse...

és um incansável criador e mestre...aprendo aqui e só posso agradecer a existência desse espaço. meu abraço fraterno.