30 novembro 2008

Sombrinha amarela com flores azuis.

– Olha, me olha, mira, vira, louco,
outro que sai de ti. Sou eu. Tu não vês?
Estou aqui. Neste sinal, farol,
luz de encruzilhadas.
Não sou navio, levo nos porões o que ficou
no lugar do que perdi. Ego,
ilha, alma, algo. O que faço?
Peço dinheiro. Está chovendo muito,
tenho esta sombrinha. Achei.
O que é a vida, o que é.
A sombrinha te chamou a atenção,
na mão de um rapaz novo e bonito.
Te explico, é porque sou artista. A roupa suja
não me cai bem. Eu sei. Não repare.
Tu me vais fotografar?
É amarela,
com flores azuis.
Danço entre os carros. Não,
corro. Um dia caí da escada do avião
bati com a cabeça e
me trouxeram pra cá,
mas sou de lá. Não posso voltar,
minha cidade já foi tomada pelo mar. Fico triste.
Aqui sou sozinho, mas me enfelizo,
me embelezo, me enjubilo, me encorajo
com os dias e as poesias que recolho
andando pelas ruas. Repare, olhe bem,
fixe o olhar num canto qualquer,
e verás um rastro
dos velhos caminhos dos nossos pais,
dos dias em que eles sonhavam, antes de nós.
Tu me reconheceste. Eu sei. Te esperava.
Haverias de me levar contigo?
Queres minha sombrinha?
Queres? Toma. A sombrinha te segura,
te equilibra. Mas tens que inventar
palavras bonitas sempre que te sentires down.
Tu me olhas. Tu que choras,
ou são águas dessa chuva?

13 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Dauri.

Assim... é covardia!
Hoje, estou fugindo de mim e venho aqui e, novamente me vejo.
São cacos de espelho, que quase-jazzem, largados nas esquinas dos brasis...
Esta é a segunda conversa que temos.
Teus versos e os meus sentimentos.
Hoje estou vivendo esta tristeza, torcendo que ela acabe e se exaura de uma vez.

Triste, como a vida dos andarilhos.
Rápido, como os carros que largam ao verde dos sinais.
Profundo como as dores humanas.
Mas lindo como somente um poeta sabe escrever.

De novo, sem palavras.
porque quero sair, ainda sentindo. Acresce a isto que hoje, estou muda...)

Carinho, sempre.

eder ribeiro disse...

Triste, profundo e comovente o teu poema. quem será sombrinha para proteger, fazer sombras a sobrinha?

Dauri Batisti disse...

Obrigado Eder, digitei errado. Já corrigi. Digitei sobrinha no lugar de sombrinha. Legal. Rsrs.

Abraço.

Rosemeri Sirnes disse...

Vê, tenta outra posição, fotografa, procura nova posição. Seus poemas são feitos de ângulos estratégicos. O artista escolhe a melhor luz, seleciona o personagem, procura o melhor foco, opta pela objetiva mais interessante . Sabe exatamente a medida, por isso transforma a realidade, captando o que é essencial.

Palmas, meu caro

Anônimo disse...

Comovente, e só. Gostei.

vieira calado disse...

Também gostei deste seu poema.
É um modelo que às vezes também cultivo.

Um abraço

:.tossan® disse...

A tua poesia retrata as esquinas em que passei, parei e fotografei ontem, com uma diferença, não consegui poesia como vc. Abraço

Lisa disse...

A minha sombr(inh)a


Uma sombra que desaparece pouco a pouco ...
Uma vida que termina em lume brando ...
E todos aqueles projectos planejados,
Todas as memórias partilhadas,
Palavras, sorrisos,
Risos também ...
Uma dor na alma, um coração de pedra, lembranças,
Dor, miséria, a chama se extingue,
Sentimentos mistos,
Superar o medo, o eco de mim mesma ...
Perdida na minha sombra,
Ela permanecerá enraizada em mim,
Mesmo que a vida continua sem Ela,
Sei que vou perdê-la eternamente ...


Obrigada pela sua passagem ..
Feliz que tenha gostado

Um abraço
Lisa

Anônimo disse...

tua poesia é mais que palavras, são vida na sua forma mais sensível. belíssimo, Dauri. (desculpe a ausência, aos poucos estou retornando aos comentários e a postar.) meu abraço.

Fred Matos disse...

Interessantíssimo trabalho, Dauri.
Gostei muito.
Abraços

Letícia disse...

E venho ler.

Não me prendo ao símbolo que representa uma sombrinha. Apenas vi a imagem humana que precisava ser vista.

E você viu o humano na rua. Salvou a imagem esquecida.

Um abraço.

E gostei de seu talento sem ostentações. E agradeço por me visitar.

Anônimo disse...

"Tu me olhas. Tu que choras,
ou são águas dessa chuva?"

Nossa, sem palavras!
Só restou o: PARABÉNS!

Bjos e boa semana!

Cosmunicando disse...

gostei muito, Dauri... seus escritos me impressionaram.
obrigada pelas visitas, virei beber dessa fonte.
abraço