21 outubro 2008

Através do deserto comigo
(não me proponho a postar longos textos aqui, mas ai vai uma exceção. Para se ler rápido e em voz alta )
Com carinho dedico aos blogueiros amigos.

Atravessar o deserto, escriba doido,
com gasturas de areia nos pés, entre os dedos,
com suor e o peso de passos longe das caravanas
para escrever em E-pergaminhos.
Querer saber o mistério sabe-se lá de quê.
Não querer mais ver tv,
nem seguir como guias, estrelas
que não tangenciam minhas elipses.
Talvez melhor mesmo seja andar
no silêncio, desgarrado.

Travessia do deserto
sem encontrar tesouros. Ouro?
Estás brincando.
O que fica...
lábios que se oferecem,
promessas. Silêncio. Peregrinação
areias, rochas, no sabor delas mesmas,
enquanto os caravaneiros e rebanhos se deleitam nos oásis
com tâmaras e passas
e cafés de puro perfume.

Atravessado pelo deserto
no silêncio cortado em dois,
em três, em mais, em mil,
ter que se ver cara-cara e enfrentar
o que não se quer ver. Avistamentos
da alma, de eus, de óvnis, de corpos,
câmaras por todos os lados filmando a desgraça,
cortes que se arregaçam em revelações apócrifas,
evangelhos de tão poucas boas notícias.

De través a diária e desertificada escritura,
o silêncio da página, janela,
amplificador de sussurros,
perceber, escriba, afinal,
que tudo não foi senão o efeito de,
doidejo,
gorjeios de pássaros-bússolas
essa pulsão para fora, para o sol, para o grande nada,
o minúsculo tudo, numinoso, apavorador.
Eles, pássaros, criam rastros
marcam as palavras,
migalhas de achados, grãos de significados,
ao mesmo tempo em que os devoram.

Desertar da pretensão da saciação, fome maldita,
me leva, me incita, me excita e decreta
minha sina na ponta dos dedos,
na ponta do lápis,
da caneta ou de qualquer coisa que sangra um sangue
sem nenhuma paga ,
doidejo pleno, êxtase pela metade.

6 comentários:

Anônimo disse...

Um lindo presente, Dauri! ;) Gostei muito. Como você disse, ler rápido dá uma diferente legal - não li em voz alta, mas farei isso quando der, hehe.

Abs

Joice Worm disse...

Uau! Que grande presente, Dauri.
Não achei longo, não. Quem dei por mim, já tinha acabado e ainda por cima fiquei querendo mais.
Bzzz... Lá vai a môsca toda satisfeita.

ARTISTA MALDITO disse...

Bom-dia Carissimo Dauri

Ontem à noite estive aqui, mas os olhos traíram-me, o cérebro insistia em pedir repouso, lá fui eu repousar no longo deserto, no silêncio da noite. Andei pelo silêncio, tal como um pássaro no rastro de um poema de onde emanam as sinestésicas memórias do anverso de um lugar...

No seu poema recordei um quadro muito belo de Georges Braque, de grande maturidade: "Voo Batido".
Um voo do espaço confinado do quadro para o infinito...

Obrigada por esta dádiva.

Um beijo de amizade
Isabel

anderson eduardo disse...

Lindo texto, parabens... abração e tudo de bom

Unknown disse...

Não é grande não, mas mesmo que fosse, ele é ótimo, parabéns.
Abraços

Anônimo disse...

Não é grande!
E é muito bom... parabéns como sempre!
Bjoss