Desnecessário necessário para viver com mais ternura
(como escrevo poemas)
Num momento qualquer, numa sala de espera;
no vácuo de certos dias e de certos sentimentos;
na sonolência de cansaços, ou de tédios;
no retorcer de esgarçadas paisagens, escrevo.
Estátuas líquidas aparecem do nada e são solidificadas
sobre fibras de longas e dançantes árvores prensadas
ou sobre planas telas brilhantes do mundo em rede.
Falsos moinhos são movidos por ventos duvidosos
que sopram sem rumo, sem propósito, desatino talvez,
definindo cruzamentos, construindo narrativas e aparições
de jardins em geometrias; mas caóticos escritos esconderijos
e armadilhas, jogo antigo não abandonado,
que se joga sem inspiração. Elementos e verbos que se ligam
ou se desfazem, concordam ou não reagem de jeito nenhum.
Jogo permanente, viciado jeito de dizer o desnecessário
necessário para viver com mais ternura.
Noutro momento quem navega em seus próprios dentros
se leva em viagens, sublimes olhos sedentos,
em si mesmos é que vêem a beleza que avistam
no horizonte destas linhas, estátuas enfileiradas, artes brincadas,
monumentos de águas tintas e de nadas, apenas poemas.
(Disse um poeta - penso que o Leminski - qualquer coisa assim: poeta também é quem lê poesia).
10 comentários:
Lindo e interessante... parabens... boa semana
...desnecessário necessário dizer que seu espírito navega muito além de nossos parcos entendimentos.
necessário porém beijar-lhe a alma
com requintes de ternura.
smacksssssssssssssssssss
Prezado Dauri, respondo aqui sua correta mensagem em meu blog, para ter certeza que vc possa passar seus olhos...
Quando se tem a rotina com suas demandas contínuas e suas necessidades (assim o é com a maior parte de nós), grita-se no poema, roga-se na escrita, a nossa carência da liberdade.
Creio que nesse momento não se define mais com clareza o papel do poema: liberdade necessaria ou necessidade de liberdade (creio que na necessidade de expressão).
Quantos as horas: mantenho-me sem relógio (no máximo, eventualmente, consulto meu celular), embora tenha adquirido o hábito de consultar o sol.
A eterna dicotomia do existir.
Grande abraço,
Jorge Elias
PS: Quem saberá mensurar a força destes "apenas poemas"?...
A poesia pode não mudar o mundo (no sentido macroscópico), mas o que fará ao que há de indizível e imensurável em cada se humano?
Vou aprendendo e apreendendo essa gostosa "mania" de ler/ver o que tem aparência de desnescessário. Por aqui, quem me lê é ele: o poema.
Beijo
Muito...muito bom...e concordo...poeta também é quem lê poesia. Um abraço e como sempre não posso sair sem dizer "parabéns por mais um belo poema. PARABÉNSSSSS...
Muito...muito bom...e concordo...poeta também é quem lê poesia. Um abraço e como sempre não posso sair sem dizer "parabéns por mais um belo poema. PARABÉNSSSSS...
Caro Poeta Dauri
Confesso que neste momento secaram-se as minhas palavras, devo estar num interlúdio, por isso peço desculpa pela pobreza do meu comentário.
Agora sinto-me tão somente quem lê o poema e se cala. O silêncio, neste caso, será por suas próprias palavras também o de um "poeta".
Um beijo de amizade
Isabel
Somos todos poetas, e você, um de mão cheia! Tuas imagens são belíssimas, e inspiradoras.
:)
Abs;
Aiiiiiiiiii que até chorei.
A môsca não só vai satisfeita,
como também leva no peito pequenino as palavras que o poeta tão bem descreveu o seu momento de criação.
(Tu és simplesmente maravilhoso!)
Desejo de comentar, outra vez. Parei nesse poema, cheio de nuances, fantasias, palavras que fazem o movimento em ondas na rede da poesia.
Certa vez, por e-mail, vc disse que cria um personagem que se expressa por palavras nos seus poemas. Lendo aqui, o seu processo de criação, ouso pensar que é mais que isso. Penso que o seu poema fala, também, de sua observação e de seu olhar para os sentimentos das pessoas, em diversos ângulos.
Um abraço
Ana Paula
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