15 julho 2008

Os dias serão bonitos...

A vida sempre flores, batalhas,
outras palavras talvez não acrescentem mais.

Fala-se sobre a decisão: ir.
Resolve? Na hora,
depois o que não pode é se perder.
O aviso: Não haverá ninguém,
nem um rosto conhecido
(O’Hare, Chicago, tanta gente,
mala extraviada para Toronto);
a língua tão hábil em falar
não falará sem certa titubeação;
os dias serão bonitos,
mas o vento lacunar e gelado.

A vida sempre flores, batalhas,
outras palavras talvez não acrescentem mais.

Fala-se sobre a decisão: escrever poemas.
Resolve? Na hora,
depois o que não pode é se perder.
O aviso: Não haverá ninguém,
nem um rosto conhecido
(imagens, cores, tantos sons,
versos extraviados pela submissão);
a língua tão hábil em falar
não falará sem certa titubeação;
os dias serão bonitos
mas a poesia pausa e hesitação.

8 comentários:

Carlos disse...

Olá,

Tudo isso faz parte da vida , cabe-nos escolher a melhor "decisão" e não deixar que a hesitação se apodere de nós...
Será? também não sei ....


:)

Dauri Batisti disse...

Carlos, obrigado pelo comentário. Poesia também é dúvida, hesitação, não certeza, tal qual quando estamos em terra-lingua estrangeira. O não comum, não usual. E escrever, para mim, é a possibilidade de uma viagem, sempre surpreendente... Os dias serão bonitos.

Josely Bittencourt disse...

Há dias tenho tentado lembrar de um poema de João Cabral de Melo Neto, para ver em verso algumas ausências q me afligem. Hoje lendo sua postagem, ñ resisti a procurá-lo por toda net, mesmo lembrando apenas alguns trechos, q ao meu ver dialogam com alguns de seus versos, e com o q sinto agora...

O ARTISTA INCONFESSÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer, porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito foi para ninguém.


:*

Jacinta Dantas disse...

Bom dia Dauri,
ontem, adormeci com essa frase:
Os dias serão bonitos...

Anônimo disse...

Decisões e escolhas, tão difícil, podem mudar a nossa vida, mas sim, os dias serão bonitos, embora o ar gelado.
Adorei o poema, muito lindo, como tudo que você escreve!
bjos

Anônimo disse...

Os dias serão bonitos, mesmo que a palavra não fale deles. Mas, há que se falar dos dias que se fazem dentro de nós. Antes fazer poemas, do que não fazê-los...
(O poeta Lau Siqueira falou sobre alguém que disse: "antes fazer um mau poema, do que não fazer nenhum").
Não é o seu caso. E não sei se concorda com essa colocação.
Mas, sua poesia "pausa e hesitação" precisa ter a dicção que você nos coloca aqui. Nós agradecemos por ela.
Beijos, Dauri.
Dora

Dauri Batisti disse...

Escrevi este poema depois de, conversando com um amigo, recordar um contratempo que tive quando estive em Chicago pela primeira vez (minha bagagem seguiu para toronto). Então a recordação me fez sentir que, algumas vezes, escrever um poema é como se ver sozinho, em situação difícil, sem suas coisas, tendo que "se virar", parar, no titubeio, na hesitação da outra língua. Poesia é uma outra língua que também exige pausas e impôe hesitações. Mas, como me tinham falado de Chigado, "The Wind City", os dias seriam bonitos, mas o vento que vinha do lago seria gelado.

Anônimo disse...

Sim. Entendi. Escrever poesia parece ser como ficar "tentando" se comunicar em idioma que nos é estranho. A gente vai "apalpando" a língua, aos trancos e barrancos...On doit se débrouiller...rs Quanto aos dias bonitos, com vento gelado do lago, continuam dias bonitos e "gelados".
Suas referências são um tanto enigmáticas para um leitor desavisado ( como eu)...rs
Beijos.
Dora