18 julho 2008

Me desvaneço

Não quero nem saber se me apontam as contradições.
Para mim um bom poema
é aquele que refaz a respiração das palavras
em cada pobre criatura que fala;
mas também é aquele que dessufoca e ressufoca quem lê.
Os que aqui leio me foram entregues
por Jesse James ou James Joyce,
por outros e desconhecidos. Ao longe
me vejo recebendo-os das mãos da Gabriela, a do Chile.
São ordinários os poemas
e ninguém os quer,
a despeito de quem seja o portador.
O remetente sabe-se lá quem é.
Destituído de visibilidade,
recostado em secreto divã
reescrevo-os em pseudoanálises
do que jamais vou decifrar,
... ou ser.
Os bilhetes nos quais eles me chegam
são rabiscados em papel e gorduras
de mãos transpirantes e sôfregas.
Leio-os em trote de burro e gastura,
pois me leio melhor em romances,
(se bem que, para o bem da verdade,
tenho sido analisado mais pelo cinema
em sessões que me fazem voltar sempre
para outras e novas,
num amor transferencial pelas imagens).
Nos poemas o amor é diferente,
é um amor do tipo forçado no sacrifício.
Então digo com usura e economia
o que só poderia caber em mil palavras
(ou em algumas imagens).
Pingo aqui, respingo ali
gotas de suor e o meu odor,
e digo que o que digo é meu
Sou eu. Vago, vago.
Vagueio entre a quinta e a sétima avenida
na altura da rua 31
desço a Pen Station e esqueço
que vou tomar o trem.
Retorno para a rua e encontro uns e outros
e Kerouac em preto e branco andando apressado.
Queria muito falar com o Jack.
Respiro com os sons enquanto ando:
Jack, Jesse, Joyce, James.
Jack, Jesse, Joyce, James.
Acelero o passo.
Jack, Jesse, Joyce, James.
Me canso e decido ler a frase que me finalize:
Me desvaneço; amanheceu?
(bom dia!)

6 comentários:

Luis Eustáquio Soares disse...

sim, quero o ar, Kerouac, viajando nas desmedidas das estradas, nas bordas dos espaços, fronteira de fronteira de fronteira, a nos dizer que existe sempre outras possibilidades-estrada, na veia do tempo.
meu abraço,
luis de la mancha.]

Dauri Batisti disse...

Luis,
adorei o "quero o ar" = kerouac. Tem tudo a ver com o poema: o que sufoca e dessufoca.

Brinquei com os sons jack, jesse, joyce, james como se fosse o som de um trem de ferro, já que Kerouac viajou muito de trem.

Livinha Gi disse...

Olá!
Que prazer recebê-lo no meu humilde aconchego de expressões.
Mais prazeroso ainda é ler as linhas contidas no seu blog.
Parabéns!
A poesia prevalece neh? Como diria um grande ídolo meu.
Vamos nos falando...
Seja sempre bem vindo ao meu cantinho e obrigada pelo comentário.

Beijos

Joice Worm disse...

Com o nome que tenho, não podia deixar de estar presente. Pena que não seja tão boa escritora como foi o James. Mas sigo os seu caminho ao menos com intenção de aprender.
Belo post Dauri. Inspirador!

Elcio Tuiribepi disse...

Olá dauri, valeu a visita, mas o tal MeMe lá é só mesmo uma brincafeira, acho que os poemas e as poesias revelam muito mais, assim como aqui. Li o anterior e gostei muito de seu "tropeço na flor"...grande abraço e muitas outras tantas inspirações no decorrer de sua vida, tropeçando em flores ou não, sucesso sempre, feliz dia do amigo.

Silvio Locatelli disse...

Brincando com as palavras você consegue traduzir com fervor sentimentos aos quais carregamos ocultos em nossa rotina, nossa jornada, vale citar a musicalidade apresentada em “ME DESVANEÇO” um show a parti. PARABÉNS!

Jack, Jesse, Joyce, James.
Jack, Jesse, Joyce, James.
Jack, Jesse, Joyce, James.
Jack, Jesse, Joyce, James.
Jack, Jesse, Joyce, James.

Me desvaneço; amanheceu?