17 fevereiro 2008

Percebi em bytes teu olhar
(segunda exortação do honorabilíssimo escriturário corregedor)

O que pretendes na ilusão é o singular,
mas obténs dobras e redobras em papel de pão
do que foi escrito com ouro de Ofir em seda do oriente.

Tu és mais um que fala. Só isso.
Falas o que os trovadores lindamente cantaram.
Amarrotas no enfado o que já foi provençal.

Repetes sem fé o que profetas proclamaram,
sussurras com pigarros o que melhor as crianças gaguejam.
Leva-te esse infernal rumor de feiras e mercados.

Teu coração se enche com palavreados,
espantalho pronto para uma faísca
que pode tudo transformar em nada.

... silêncio...
Há alguém mais aqui... silêncio!
És tu, ó terceiro, que te intrometes?

Percebo em bytes teu olhar.
Se és parceiro desse "poeta" , não há saída,
responde: por que me estás a ler?

17 comentários:

o Cronista disse...

tem uma musica que diz: vc só ama em stereo!

se vc pode perceber em bytes o olhar!

otimo texto e blog!
virei de novo!

Dauri Batisti disse...

Há três personagens no texto:
O honorabilíssimo, que fala;
o "poeta" do blog a quem ele dirige a exortação; e o leitor que o honorabilíssimo descobre através dos bytes do olhar pelo computador.

Anônimo disse...

Exatamente...3!
Leio porque me faz bem. Gosto do que escreves!
Estou adorando esta dinâmica... Inspiração, sabedoria, criatividade, sensibilidade não te falta.
Resta-me acompanhar...
Até mais...
bjs.

Luiza

Vander Macedo disse...

O Poeta desencantado que transforma o próprio desencanto em poesia. Há um pouco de contradição e drama nisso tudo - que fica bem nítida na cisão da personalidade do eu-lírico em o "O honorabílissimo corregedor" e "O Poeta" - o poeta ora desiludido, ora hesitante, questiona a qualidade da sua arte e a necessidade de seus esforços, mas esse questionamento ele faz por meio daquilo que questiona, por meio de mais um poema - acrescentando mais palavras àquelas que ele julgava em excesso, com um esforço que ele imagina que resultará em mais dobras e redobras de papel ordinário - como se mesmo tendo dúvidas a respeito do que faz, admite que não pode deixar de fazê-lo.
Não sei se a minha leitura foi correta, mas mesmo que tenha sido incompleta ou equivocada, não posso deixar de considerar ambos os poemas interessantíssimos, e essa é a minha resposta para pergunta do último verso, no entanto, devo dizer que ela seria mais adequada se perguntasse "por que estás a me reler?".
Abraços e obrigado pela visita.

Luciano Soares DiiDrick

Vander Macedo disse...

O Poeta desencantado que transforma o próprio desencanto em poesia. Há um pouco de contradição e drama nisso tudo - que fica bem nítida na cisão da personalidade do eu-lírico em o "O honorabílissimo corregedor" e "O Poeta" - o poeta ora desiludido, ora hesitante, questiona a qualidade da sua arte e a necessidade de seus esforços, mas esse questionamento ele faz por meio daquilo que questiona, por meio de mais um poema - acrescentando mais palavras àquelas que ele julgava em excesso, com um esforço que ele imagina que resultará em mais dobras e redobras de papel ordinário - como se mesmo tendo dúvidas a respeito do que faz, admite que não pode deixar de fazê-lo.
Não sei se a minha leitura foi correta, mas mesmo que tenha sido incompleta ou equivocada, não posso deixar de considerar ambos os poemas interessantíssimos, e essa é a minha resposta para pergunta do último verso, no entanto, devo dizer que ela seria mais adequada se perguntasse "por que estás a me reler?".
Abraços e obrigado pela visita.

Luciano Soares DiiDrick

Dauri Batisti disse...

Bravo Luciano!
Acertaste de cheio.
Obrigado pela visita.

Renato Ziggy disse...

Oxi, valeu pela visita. Inté.

Isaque Viana disse...

Rapaz.... versos perfeitos!

Muito bom, bicho..


abração!

Isaque Viana disse...

É aquele tipo de coisa que a gente pensa: "como nunca pensei em escrever isso?"

bruno e.a. disse...

o seu comentário no meu blog, foi, foi...

enfim, adorei!

volte sempre, mi casa es su casa!

Unknown disse...

Já o seu poema me trouxe um sorriso do próprio Jorge Amado.

Também passei por aqui e gostei.


Muito.

Luis Eustáquio Soares disse...

ilusão com ilusão, e não realidade por ilusão, e vice-versa, e vers-vice, num potlatch de trocas impossíveis, tais que, ao seu presente, devolvo com o que sente, e nunca o que ressente.
obrigado pelo comentário.
abraço,
luis de la mancha

Jorge Elias disse...

Prezado honorabilíssimo,

O que seria de nós sem a sua sinceridade.
Agradeço (em meu nome e dos demais que buscam o exercício da poesia), os seus desagravos.
Mas fique tranquilo, que eu de cá me espreito, me persigo,me desenquadro - me desengano.
Quanto ao meu amigo poeta - o do blog - à considerar seus textos, também é um sincero poeta desiludido.
Respondo-te com uma pergunta: Já se perguntou porque perdeste teu tempo a nos escrever ?

Dauri Batisti disse...

Querido Jorge,

Obrigado pelos comentários.
A poesia vai nos levando, maravilhosamente.

Exercícios, exercícios,tentativas.

A literatura sempre foi uma mentira muito simpática, cativante. Uma mentira que quer dizer verdades, mas que nunca sabe se consegue.

Exercícios, modos de dizer o contrário, de enxergar outros campos, mesmo que anamorficamente.

Exercícios, modos de conversar com os mundos que orbitam o mesmo sol que o planeta "EU".

Exercícios, brincadeiras, faz de conta, faz as contas e não soma, canta. E ai a lógica dança.

Dauri Batisti disse...

Há uma tecnica para se lidar com conteúdos inconscientes elaborada por Jung que se chama imaginação ativa. Uso-a frequentemente para escrever meus "poemas". Este persogagem - o honorabilíssimo - seria "morador" de um vale sombrio não muito distante do ensolarado sítio do "poeta".

São disse...

Te estou a ler porque a tua poesia me agrada!
Saudações.

fjunior disse...

leio porque gosto e porque quero... serve? rsrsrs