14 fevereiro 2008

Exortação do honorabilíssimo escriturário corregedor

Há palavras demais
colhidas nos mais lindos pomares;
Frutas vermelhas, carnudas, mas aguadas.

Há palavras escorrendo da encanação furada
formando enxurradas, valas,
jorrando pela rua errada.

Há, e elas pingam em longos filetes dourados
das conchas das abelhas geneticamente alteradas
mel com certeza, decerto contaminado.

O resultado é o engano, o poder da miudeza, névoa,
perda do precioso tempo consagrado que seria
para outro rito; dançar a vida em nobres salões.

A luz dos minutos é sugada por cada poema,
- misteriosos buracos negros - num redemoinho esfaimado,
ninho de anjos em tempo de muda de penas,

vadios, feios, sem destino.
Formigas que perderam o vôo e caçam
pequenos grãos de açúcar em uma velha lata de biscoitos.

Horizontes abertos em cada manhã, tudo se perde.
Não perca mais tempo, meu caro,
teus poemas não valem nada.

13 comentários:

São disse...

Apreciei demais seu poema!
Escreva sempre.
Fique bem.

Dauri Batisti disse...

Obrigado são pela visita.
Escrever sempre e ficar bem. Bela dica. Obrigado.

i disse...

Dauri, obrigado pela visita. Adorei os textos e o blog como um todo. Aliás, a epígrafe é muito bem escolhida, uma verdadeira declaração de amor à poesia!

Jacinta disse...

Dauri,
aqui estou,num dia de sábado, lendo seus poemas. O dia, lá fora, ensolarado, um convite para passear, e, como você já disse, em algum lugar, fazer poesia, mesmo sem escrevê-la(acho que foi isso que li).
Esse poema me leva a pensar nas palavras vãs, aquelas que falamos, mas não acreditamos, porque estamos saturados ou porque elas (as palavras) já se saturaram.
Ih! de novo, acho que compliquei tudo.
Um abraço
Ana Paula

fjunior disse...

acho que é o meu favorito... adorei...

:: Daniel :: disse...

Amigo Dauri,

É um prazer imenso recebê-lo na Velha Casa. Quando quiser, "entre e fique à vontade", como dizem na TV... rs

Tou brincando: escrevo ali coisas minhas, sensações minhas, mais como um esforço de colocar pra fora sentimentos e não guardá-los, como costumava fazer.

Muito bom conhecer esse seu espaço tb. Vou linká-lo na casa tb.

Pelo pouco que eu li aqui, você escreve com intensidade. Gosto muito disso. Vou ler outros posts seus aqui.

Abração,
Daniel

Renata Bomfim disse...

Olá Dauri, e a gente sempre em busca da palavra, não de qualquer palavra, da palavra bendita, que dá da vida, que valida a existencia...Parabéns pelo blog e obrigada pela tua visita ao Letra e Fel, serás sempre bem vindo!
abraços
renata

layla lauar disse...

Oi Dauri

Agradecida pela visita e encantada com tudo que li aqui. Ter recebido um elogio de alguém que escreve tão lindamente quanto você, me deixou honrada e muito feliz. Belísismo poema. Parabéns.

Um abraço

Pushoverboy disse...

Obrigado pela visita... muito bons os seus poemas. Um dom escrever em duas linguas... eu não consigo.

Renato Ziggy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renato Ziggy disse...

Então, seu poema foi inclusive motivo de debate entre mim e uma amiga, que ficamos tentando entender o que você falava pelas entrelinhas.

Eu disse a essa amiga que quando li seus versos me lembrei dos políticos brasileiros, cujos "versos" soam como um verdadeiro banquete. Mas é tudo papo furado, e por isso o filete de água desce e torna a poesia vazia, vã, porque nada acontece.

Apenas aqueles que estão antenados, como o eu-lírico, são capazes de captar essa vaziez, esse caráter vão das propostas que jamais serão cumpridas. São apenas como versos jogados ao léu para seduzir um povo sofrido, esperançoso, porém ignorante.

Posso ter viajado, extrapolado, mas seus versos me fizeram pensar. Bom demais! Posso linkar-te? Ah, li outros poemas e curti! Abraços!

Anônimo disse...

Lembrei do verso da Ana Cristina: "As palavras escorrem lubrificando passagens ressentidas" (acho que é assim).

Gostei muito. Parabéns.
E obrigada pela visita. Apareça sempre que puder e quiser.

Beijos.

arquiteliteraturas disse...

"Percebo em bytes teu olhar.
Se és parceiro desse "poeta" , não há saída,
responde: por que me estás a ler?"

Concordo com ESSA PALAVRA. Leio-o porque é melhor lê-lo do que não lê-lo; porque curto, temulento, de vez em quando, catar as latas da noite passada.

Sabe-se: só a História se escreve com migalhas. Literatura é pão e circo.

Foi bom encontrá-lo nas malhas das letras de Le Padre (Louis de la Mancha). Vc e Disguiser me movem a cabeça (a de cima, naturalmente).

Grato, man!!!