O que exponho e agrado, se agrado, é teu
Quando escrevo não me emociono, nem busco emoção para escrever. Falo de sentimentos, da vida, da condição humana, mas não me confesso, nem explicitamente falo de mim. Para cada poema crio um personagem que irá dizer o que digo. Ficção, portanto. Eu imagino o rosto, a roupa, a voz, o jeito, a idade, o cenário, a luz, a loucura, a doença, a sabedoria, etc. do personagem. Em meio a muitas brumas, lógico. Então ele diz o que publico aqui. O que ele diz, diz de modo desarrumado. Tento, então, arrumar o poema – e entro nele - mas ao modo de quem faz palavras cruzadas, passa-tempo, exercício mental. E, como diz o velho Horácio, quod spiro et placeo, si placeo, tuum est. (O que exponho e agrado, se agrado, é teu). Às vezes me agrada e me emociona... Às vezes. Bem, acho que é assim. Ser sempre coerente não é o que me importa aqui.
10 comentários:
Olá,
já faz um tempinho que leio esse espaço e, até então, não senti necessidade de fazer nenhum comentário. Hoje,acho pertinente dizer algumas palavras. Às vezes, releio poemas antigos, ou um conto escrito no ano passado. Gosto disso. E, na minha fantasia, vejo quem escreve de várias formas, com sentimentos diversos e pensamentos que voam por vários mundos, delirantes ou centrados...mundos.
E penso que essa "ilusão" faz bem aos sentidos do leitor, pois ele toma o que lê do jeito que quiser, dando sua interpretação e tirando o que de melhor lhe cabe.
Então, para quê ser coerente?
deixemos isso para a narrativa de fatos acontecidos.
Confesso que fiquei perplexa com suas "explicações".
Continue imaginando os espaços, as personagens, os cenários. Pôcha, ficção também é descontração, reflexão...
E todos os seus "esses", é tudo de bom. Para mim, sempre uma boa leitura.
Maria de Lourdes
Obrigado Maria de Lourdes pelo seu comentário.Obrigado por considerar meus "esses" boa leitura. Quanto ao que você carinhosamente chamou de "explicações" talvez seja só um modo de expressar o meu processo de criação. Ou, quem sabe, seja
só mais uma fala de uma das personagens. Nada sério.
Beijo,
Dauri
E eu...
Acho que, hoje, no pouquinho que arrisco escrever, estou sempre a falar de mim, comigo mesma, nos rabiscos que faço em cadernos e agendas. É que escrever me ajuda a aliviar as esquisitices que tenho, é algo que me acalma, ajuda a aliviar as dores.
Já eu, sou cada palavra escrita por mim.
E muitas vezes, escrita pelos outros tb...
Bjs!
Quando escrevo com emoção, não costumo gostar do resultado.
Já quando escrevo sobre a emoção que senti quando me inspirei, aí sim fica naquele jeito.
Arraste o mouse no nada!
Concordo com você Claucio quanto a escrever sobre a emoção, apesar de não acreditar em inspiração. Acredito mais em colher, guardar - com carinho - palavras, gestos,paisagens, frases, imagens, pessoas, olhares, cenas, etc e decidir escrever, usando o que um dia foi guardado.
O bom nisso tudo nem é o que se escreve, mas o que se colhe. Do mais é trabalho
Hoje, ajudando uma colega a corrigir sua monografia, disse-lhe. Aqui você precisa ser mais técnica e menos integrante do grupo. E complementei: Olhe de fora, assim o trabalho flui melhor.
É...Não me imaginava dizendo isso.
Dizem que finjo ou minto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê !
Fernando Pessoa
Olá Dauri, muito interessante seu espaço, suas poesias e a sua forma de ver e sentir o que escreve. Somos mesmo personagens de nós mesmos. As vezes escrevo e sinto a dor dos outros, com certeza não profundamente, mas imagino e tento passar para o papel, e isso acontece com as coisa que me emocionam...ou não...
Parabéns pelo seu blog. Se autorizar, gostaria de colocar o link de seu blog no meu...um abraço na alma...
"o que exponho agrado e se agrado é teu"
Começo a me situar melhor, neste cenário que elucidas neste texto.
É uma posologia, uma carta, um manual.
Talvez, Dauri, Se eu tivesse lido esta advertência, na primeira vez que te li, vi, ouvi, senti, não estivesse tão atoroada.
Primeiro porque sei(supunha, dominar) o poder da linguagem poética. Depois porque sei (pensava saber) o que as emoções movem e o que move, as emoções.
Mas aqui, contigo, me acontece uma coisa esquisita.
Inédita em minhas experi~encias.
Estou lendo teu janeiro e é o mesmo Dauri, que em outubro e novembro e em dezembro, me comove, me mareja os olhos, me turva o olhar, e destrambelha o coração.
Sei lá que me dá!
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