13 outubro 2007

Palavras molhadas

Perdi o dia com as palavras
andando por caminhos com muitas encruzilhadas
em paisagens rotineiras e cinzentas
sem olhar para quem passava.
Procurei lugares onde o vento fosse bom
e me permitisse armar um varal para secar as palavras.

As palavras vêm sempre molhadas como crias
de qualquer bicho quando sai do útero.
Prefiro-as secas e leves
e por isso perambulei em busca da melhor corrente.
Quando o dia chegou ao fim
me achei longe sofrendo de vácuo
de uma perdida parte que ficou pelo caminho
que eu bem nem sei, nem me pergunte.

Do que sofro, necessito falar outra vez,
- quem me analisa que interprete -
manifesta-se numa sensação ruim a me roer
como lombricóides seres intestinais,
enquanto ando por outras estradas
onde todos me dão bom dia
e reputo-os como loucos
uma vez que aqui no centro estou vazio.
O vazio vem dessas muitas palavras úmidas
que se grudam nas curtas horas do dia
apagando-lhes o fulgor.

Palavras!
Não encontrei o vento certo.
Era tão pouco o que eu queria,
um sol que brilhasse as cinco da tarde
como brilha ao meio dia.
Palavras sem umidade, sem secreções,
sem salivação excessiva.

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