Uns passarinhos assustados voaram
Estava ali para dizer, mas o que queria mesmo era ver, e não dizia nada, apenas rodava o botão da camisa sobre a meada de linha que lhe dava sustentação no tecido como se desse a um mundo uma ajuda no seu movimento de rotação sobre os próprios eixos. Abaixara a cabeça sem saber o que dizer, à porta, nem dentro nem fora da casa, o que desejava mesmo era entrar, ver. Seria muito bom ver, outra vez. Não se cansaria de olhar. Tinha esquecido o recado. Só sabia que deveria ir ali levá-lo. Mas qual recado? Guardara o destino, esquecera a palavra, juntava demais destino e desejo. Tenho que voltar, disse ainda de cabeça baixa, vou buscar o recado. Ao levantar a cabeça esgueirou o olhar gotejante para dentro da casa, para as suas sombras, para os seus segredos e intimidades para tentar ver o que tanto desejava... e não viu. Só ouviu a doçura da voz perguntando, quem é, meu bem? Saiu em disparada. Haveria de voltar repetindo as palavras do recado, não esqueceria, e, quem sabe, ao postar-se à porta de novo ser-lhe ia dada a sorte. O homem voltou-se para dentro da casa, o sol se intensificou sobre a estrada, uns passarinhos assustados voaram.
4 comentários:
Às vezes me emociono no seu texto, procuro onde fui pega e não encontro.
Esta do botão me impressionou, você consegue uns paralelos, uma analogias, que me traz um impacto.
(já rodei muitos botões e chegava a partir a linha. kkk)
Paulinha,
ele é poeta, mesmo proseando.
Tudo por aqui nos fisga, peixes distraídos que somos. Mas como é bom sair da água e adejar por instantes...
Dauri nos tira do chão.
Abraço o Poeta e abraço Paulinha.
Paula e Eurico, o Dauri pincela o texto com imagens descritivas que qdo percebo não estou lendo, mas observando as personagens em seu mundo, e isso, só gdes escritores conseguem. Dauri, minhas reverências.
Estou aqui participando deste bom bate papo. É assim mesmo Eurico e Eder, concordo com vocês.
...e fico feito o homem da imagem, com asas, pés nos ar...ou um peixe mergulhado em emoções.
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