27 julho 2010

Inesperado sol

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Eram homens sem trabalho que estavam ali, não gostava da palavra desempregados, eram trabalhadores, homens num bar, falando o que o mundo não queria ouvir, estas coisas do cotidiano, da vida. Eram os que restavam dos antigos operários daquele complexo, siderúrgica, estaleiro, porto. Viviam. Viviam provavelmente de pequenos ganhos, pequenos trabalhos, do mais conversavam ali no bar lições menores, aquelas que não interessavam a ninguém. Dirigiam-se a ele, nada era preciso dizer além do que diziam no olhar, e diziam senhor gerente. Sim senhor gerente, aqui estamos, e esperamos ver o que o senhor irá fazer. Ao mesmo tempo havia ali em suas retinas, no brilho e no fosco do fundo de cada olhar uma árvore que se desfolhava em aceitação de que nada, nada mudaria.

3 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

O que será feito e o que restou daquele estaleiro?
Interessante pensar que nos bares se discute sobre a vida, as dores, as esperanças e a falta delas.

Estamos caminhando em outro cenário.

beijo

maria helena disse...

Gosto do modo como está sendo moldado o caráter do gerente.A estrutura e os elos dos fatos têm um sabor de esperança apesar da desilusão que aparenta.Pelo menos eu sinto assim.
Abç

Messias Fernandes disse...

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consigo ver aqueles armazéns antigos.
lendo esse texto.

os bares, as padarias...
eis que é desses lugares que surgem os diálogos mais intrigantes da vida.

um abraço.