09 abril 2010

Inesperado sol (título provisório)

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O dia tinha amanhecido com um ar de outros tempos, tempos bons, tinha algo daqueles em que se vive na infância, tempos em que os dias não são caminhos de imprevistos e rumos, são presentes, atualidades, nada mais, era abril, e se amanhecia mesmo, se o dia recomeçava, a manhã tinha uma feição de verão, a despeito de uma linha, cicatriz de vento frio soprando. Ao sair da camionete chevrolet alvorada 62 um além do prazer de esticar-se ao sol veio-lhe ao corpo todo, o resvalo do frio, arrepiou-se num entremeio de prazer e cansaço, tinha dirigido durante a noite toda, e agora, no dourado do sol nascente resolvera parar ali, nem sabia direito onde estava, rodara pela cidade desde a madrugada alta, lá pelas duas, quando cruzou seus limites, chegando. O braço do mar ali formava uma pequena baia de águas fundas onde se abrigava um abandonado porto, avizinhado de velhos galpões do que teria sido uma pequena siderúrgica, um estaleiro de pequenas embarcações, barcos de pesca talvez, se bem que ali também se degradavam embarcações maiores, o cenário lhe ofereceu um olhar do qual não se distinguia sentimentos, senão aqueles que ele sondava em si mesmo sem saber ao certo o que se aliançava entre o que ele trazia e o que ele encontrava. Ao se aproximar do portão fechado com correntes e cadeados um segurança gritou-lhe do alto de uma guarita que ele pensou também estivesse abandonada, e ao se aproximar do portão, do alambrado, não era a intenção de entrar que lhe movia os passos, mas a simples vontade de ver mais de perto aquele lugar, e o mar por ali, distraia-se na verdade. O senhor demorou, disse o segurança, aguardávamos pelo senhor deste a semana passada. Antes que ele tivesse palavras para dizer o que teria de dizer, já o outro abria-lhe o portão, e abria a mostrar que ele devia entrar com o carro. Logo veio-lhe o rapaz com um farto molho de chaves, dando-lhe boas vindas e desejando bom trabalho.

10 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Será que desta vez o 'inesperado' virá por terra sobre rodas de um velho caminhão? As imagens do homem descendo e se espreguiçando foram perfeitas.
Gostei da metáfora do canal de vento como uma cicatriz.

um beijo

Sueli Maia (Mai) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
eder ribeiro disse...

Ficamos na espera que esta nova jornada traga as novidades na abertura das portas, pois com este molho de chave da personagem serão muitos cenários e muitas histórias

Jacinta Dantas disse...

Hummmmmmmmm!
bom acordar e sentir que, aqui, outro "conto" se inicia, agora por terra? em meio ao sopro de outono.
Beijo

Elcio Tuiribepi disse...

Olá Dauri...foi-se o porto, mas ficou a sensação de dever cumprido...fico aqui imaginando este conto num livro, na verdade virou uma linda estória, inteira e profunda.
Agora chega o inesperado, onde as possibiliades são inúmeras, até porque o próprio titulo nos leva esta conclusão...
Um abraço na alma...um beijo no coração amigo

Ilaine disse...

Dauri!

Outra história... em inesperado sol. E olhe, ele foi inaugurado com chaves de ouro - "com um farto molho de chaves" douradas.

Abraço

Léo Santos disse...

Sim! Um farto molho de chaves... Estou acompanhando!

Um abraço!

Joice Worm disse...

Daqui começo a minha viagem...
Obrigada por seu carinho, Dauri.

octavio roggiero neto disse...

Meu amigo, resolvi voltar ao limiar da sua história Inesperado sol. Agora você me deixou em dúvida, não sei se prefiro o Dauri poeta ou o Dauri prosador. O tumulto do ramerrão havia me deixado longe da leitura de blogs. A verdade é que você, como poucos, faz valer a pena ler prosa na telinha do computador. Confesso que prefiro livros, mas sua escrita é imperdível.
Um abraço.

Rejane Martins disse...

Mania de começar pelo início! Vou lendo aos poucos, é claro.