O último porto do rio
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Há aqui agora, sem horas para chegar, um barqueiro que vem quando nunca se espera, e me impõe cobranças de umas cartas. Do cais grita impertinente, me chama de senhor, e exige que lhe entregue sem demora as malditas cartas. Fico em dúvida se não deveria chamar-lhes benditas. Fala-me como se me fizesse um favor, eu que tenho que descer ao cais, mal me toma os envelopes e atira-os dentro de uma bolsa velha de couro sem me olhar, voltado que está para os seus afazeres, os que lhe são importantes. Lido com registros, todos sabem, do que chega e do que sai neste ultimo porto no rio, tudo tenho que por no lápis, sem esquecimentos, desonestidades ou distrações. Cobra-me tão seguro as cartas o sujeito, talvez, por me tomar por quem não sou, e como parece sempre muito apressado, não me ouve as explicações ou tentativas. Também não distingo por qual grito por dentro, mais forte do que o deste endoidecido que sobe e desce nas barcaças, é que me dobro sobre a mesa e deixo ir este rio de insignificantes desejos de dizer o que vou dizendo.
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Há aqui agora, sem horas para chegar, um barqueiro que vem quando nunca se espera, e me impõe cobranças de umas cartas. Do cais grita impertinente, me chama de senhor, e exige que lhe entregue sem demora as malditas cartas. Fico em dúvida se não deveria chamar-lhes benditas. Fala-me como se me fizesse um favor, eu que tenho que descer ao cais, mal me toma os envelopes e atira-os dentro de uma bolsa velha de couro sem me olhar, voltado que está para os seus afazeres, os que lhe são importantes. Lido com registros, todos sabem, do que chega e do que sai neste ultimo porto no rio, tudo tenho que por no lápis, sem esquecimentos, desonestidades ou distrações. Cobra-me tão seguro as cartas o sujeito, talvez, por me tomar por quem não sou, e como parece sempre muito apressado, não me ouve as explicações ou tentativas. Também não distingo por qual grito por dentro, mais forte do que o deste endoidecido que sobe e desce nas barcaças, é que me dobro sobre a mesa e deixo ir este rio de insignificantes desejos de dizer o que vou dizendo.
9 comentários:
Contente em ler algo assim. Ansiosa por acompanhar.
Gosto da sua forma de escrever, porque visualizo cenas e sinto os personagens.
Personagens fortes os seus, com gritos por dentro, com rios que correm nas veias.
beijo
Muito bom, bem escrito... Cheguei aqui pelo blog do Jorge Elias.. que eu também não conhecia. Parabéns pela escrita de belas imagens (como já disseram aí).
[ ]s
...acabei de ler poemas dos dias 11 e 9 de nvembro, respectivamente. Esses, achei excelentes, contendo além das imagens (louças do serviço), um texto límpido e profundo. O surpreendente (peso do perfume) também acontece de uma forma sofisticada. Gostei também do andamento, a música desses versos, e a finalização, os pontos finais no outro verso, que não está nos 4 das estrofes, isso também gosto de usar, como uma extensão meio pausada do que se diz ou conta. O bom da poesia, é que nela há uma chance da pedra se dissipar.
...não sei porque me lembrei
do O Carteiro e o Poeta.
deixo bjs procê!
Esse rio é dentro de nós.! E a voz que grita, é a nossa conciência.!
Grande Abraço Dauri.!
Emoção, Dauri.
Você libera a minha emoção.
Um Beijo
Ah... Domina a prosa, o conto, tão bem como a poesia. É sempre uma surpresa passar por aqui.
Chego atrasada para o conto e para o Natal... Agora ando assim. Estou me atrasando, mas chego sempre na hora oportuna. Um beijo para ti, meu querido.
Do último capítulo, venho ler o primeiro, hoje dia 7 de abril. Encontro, pois, o mesmo fluir, a mesma proximidade com o narrador, o mesmo envolvimento, a mesma beleza literária. Faltam muitas partes para ler, é verdade, mas posso afirmar que você escreveu um livro lindo, Dauri. Parabéns!
Abraço
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