02 setembro 2009

I

Bati à porta de mundos,
outros, dentre tantos, e
fui recebido. Logo
sem perceber, fui perdendo
o que não sei que perdi.

Quis dançar, mas
a vacuidade das suas estradas
não me permitia senão
passos marcados.

Minha vocação eu sei, ou sinto,
é para os substratos dos dias,
aqueles encobertos
pelas areias do costume das horas.

Agora vou viajando
pelos Egitos. Os dias
e os seus hieróglifos me desnorteiam.
Suas teias, no entanto,
me prendem no que irei aprender.

Ah, então subi o Nilo
à esquerda,
para a Etiópia,
por me sentir
na falta de alguém.

Encontrei-a,
e, nos seus olhos
os meus reapareceram,
na sua pele a minha tez,
na sua alma o fogo da minha.

Mas, ao me ver nela
fiquei doído de muita dor.
Seu olhar era o seu,
e o meu o meu.

9 comentários:

Anônimo disse...

...proteja seus olhos,poeta!

Dauri Batisti disse...

Tenho que proteger-me, caro anônimo, da ilusão. O outro, quem quer que seja, sempre é o outro.

lula eurico disse...

O outro é o outro, anonimo ou não. E qtos anonimatos há nos nomes revelados.
É vero, Dauri, o outro, quem quer que seja é sempre o outro.

Abraço fraterno.
Muita paz!

Paula Barros disse...

Ah, Dauri, hoje vou começar comentando suas palavras no comentário.

Tenho me preocupado com a ilusão, muito mesmo. A ilusão que me faz sentir viva, me sentir amando, me sentir ligada, me sentir pensando, me sentir lembrando, e escrevendo..e depois me preocupo em ser a ilusão de alguém...e me preocupo com os vários caminhos, as várias pontes, os vários elos...e tenho receio em não me perder nesse mundo de ilusão.

E dentro das minhas muitas preocupações/ilusões, sabia que me preocupo em especial para que você não se perca por caminhos e sentires ilusórios? Mas eu mesmo me pergunto nas muitas madrugadas que penso assim: e você sabe qual o melhor para ele, se você não sabe nem para você muitas vezes? E em vez de se preocupar com ele se preocupe com você e centre sua atenção no seu caminho, me respondo e brigo comigo.

É, Dauri, e você então é quem me responde. O outro é o outro. Por isso temos que saber de nós. Nos conhecer.

Obrigada!

Paula Barros disse...

"Mas, ao me ver nela
fiquei doído de muita dor.
Seu olhar era o seu,
e o meu o meu."

Por esses dias ao ler você tentei (ainda não consegui, só tenho a ideia) escrever algo sobre o espelho, a imagem, e o reflexo invertido, no que sinto ao ler,
Ao ler você é você, mas me vejo, e me vejo pelo avesso.

O que você escreveu é você, mas me vi..estradas, danças, teias,ilusões, medo de me perder...


um abraço, e um bom dia.

Dauri Batisti disse...

Querida Paula,

fiquei rindo ao ler seu último comentário no ESSAPALAVRA.

Primeiro porque você - parece - acaba misturando minhas ficções com a imaginação. Assim é. O que se escreve ganha vida própria. O leitor é o dono do texto.

Mas acho que talvez seja bom re-situar meus escritos no campo da ficção e como tal o entendimento se dará dentro de outros enquadramentos.

Sério, escrevo sem sentimentos, crio personagens. É a imaginação e a brincadeira que me importam.

As vezes escrevo textos densos, tristes, dolorídos, mas assim os faço pois quero traduzir realidades e complexidades humanas. E posso fazer isso assoviando.

Mas, afinal, cada coisa oferece seus signos, e você, no essapalavra, pega alguns e designa e ressignifica suas viagens. Esteja à vontade, mas não se preocupe...

Take it easy.

Com carinho,

Dauri

Anônimo disse...

...então eles tinham razão!
"Fernando Pessoa" e "Plinio,o moço"
sim ou não?

Wellington Felix disse...

nosso assombro e nossa gloria, estão nos espelhos ou nos olhares, olhar o outro em nossos anseios, que maravilha, quando os poemas e os comentarios se integram, e surge dentre as palavras, sincronicidades, maravilhoso!!!!
Sobre sua poesia, Dauri, nem precisa comentar ela cria e se recria alma própria, obrigado!

myra disse...

belisssssimas palavras...