14 agosto 2009

Não ando deprimido,
nem triste,
ando calado.
Calado me afundo
nessa mansão
e adentro por um salão
onde tudo o que é frágil
fica mais frágil ainda,
o que é denso fica tênue,
o que dura se corroi.
Quero escrever a gramática destes tempos,
dias em que calar é uma imposição
de algo, de alguém, de algum
outro eu mesmo sobre o coração.
Perco a língua, ganho olhos.
De tanto olhar, olhar, tudo
o que pelos olhos entra,
pelo olhos começa a vazar.
E o que vaza, traindo-me,
talvez escreva um sofrido entendimento
do que se passa, do que me passa.
Envergonho-me de mostrá-los, todavia. Sei
que faltam letras
no meu alfabeto de olhar.

5 comentários:

lula eurico disse...

Oi, Dauri, irmão e amigo. Teu olhar sobre as coisas desse tempo sempre nos leva a refletir...

Sobre os exames, aguardo sereno e tudo há de ficar bem.

Abraço especialmente fraterno.

Sueli Maia (Mai) disse...

Do que, por meus olhos, senti, minha boca calou e minhas mãos lentificaram o grafavam por minha boca e meu olhar que, de tanto ver, também vazavam.

Outra vez imagens e aqui um homem solitário, cabisbaixo, pensando, falando prá dentro e chorando.
Beijos, Dauri.

Katia De Carli disse...

"E o que vaza, traindo-me,
talvez escreva um sofrido entendimento
do que se passa, do que me passa.
Envergonho-me de mostrá-los, todavia. Sei
que faltam letras
no meu alfabeto de olhar. "
Lindo, lindo, lindo!!!

Querido Dauri, sei que estou sumida, mas é por justa causa! Mas sempre estou por aqui, embora em silêncio... Amei o post do Eurico sobre os Não-poetas, Você e Fernando Pessoa, meus ídolos!
É como digo, distância não significa ausência.
Um grande beijo e um dia, se Deus quiser, aquela outra Kátia vai retornar, e se Ele não quiser a gente se reinventa!

Ava disse...

Dauri... o olhar não precisa de alfabeto... Ele fala mais que mil palavras...

Podemos até tentar traduzir, mas é dificil...

As palavras sempre nos traemmm... E não conseguimos esconder o que nos vai na alma...


Por hoje, beijos em seu coração!

Paula Barros disse...

Dauri, quando vazar e em palavras inundar, deixa transbordar no blog.

Entendimentos, os seus, para você, com você, são seus.

As palavras são belas...tem um quê inexplicável de formosura. Mesmo quando inquietas, dançantes, esvoaçantes.

Ao leitor, entendimentos que entrarão pelos olhos, e vão invadir espaços, e vão se misturar com sentimentos, e vão transbordar em emoções, em palavras ditas e não ditas, caladas, silenciadas, escritas....e vão vazar um dia, uma hora, em algum lugar.

um abraço.