06 julho 2009

Se há poeta,
por aqui é que não há. Andam
essas palavras,
tem passos em seus pedaços,
Roland Barthes não viu.

Me esbarro na corrida dos meninos
soltando suas arraias
nos terrenos baldios.

Se há não vejo,
o que escorre desses dedos,
corre desengonçado, corre,
voa, nada, peixe que não serve para aquário,
nada. O papel
foi picado e me alegro em jogá-lo pro ar. Talvez
um gozo, um olho, um modo de olhar,

só o olhar pode parar
o mundo, o universo, o tempo.

Se há,
é um reverso
o que se levanta na estrada
a cada passo. O que se levanta
e não se vê, atrás dos passos, a poeira,
o que gruda nas sandálias,
mesmo depois de sacudidas. O que escorre,
destilado da vida em cada bago
que se pisa, caminho que pode fazer o vinho
de melhor sabor. Pode. Não há
garantias.

Se
o labirinto da mente
pocou o sol em dois,
agora sou hóspede
num mundo que orbita estrelas binárias.

Ah, o quê?, tu te confundes?,
é que as palavras
as vezes,
pastilhas fortes, são de hortelã,
na boca que espera
um beijo. São outras coisas ainda, as palavras,
muitas outras,
que não posso dizer, por incompetência,
não sei pescar. Pesco.
As vezes pego um lambarí, uma piaba.

Há uma linha prateada na piaba. Do
início ao fim. Um
pássaro de vinho sobrevoando um coração.
Um beijo. Tchau.

4 comentários:

octavio roggiero neto disse...

Quem alimenta a chama do encantamento e a toca com prazer e dor e se atira em seu ventre para renascer em cada palavra... Definitivamente, Dauri, és um poeta!

Sueli Maia (Mai) disse...

Pescador de palavras, pode ser? És pescador? Gostas de peixe?
Um Beijo.

Paula Barros disse...

Dauri, ontem já tarde da noite vim ler e comecei a comentar, mas levei, ficou grande, talvez vire algo para o blog.

Portanto tem palavras tuas nas palavras minhas, no meu cantinho, na mente...

Seria isso intertexto via blog, ou seria roubo de palavras?

És um artesão com as palavras...pega palavras comuns (para mim), borda com sentimento, pinta com inteligência, enfeita com criatividade e faz um trançado colorido, poético, cheio de emoção.

beijo

lula eurico disse...

Quem dera essa simplicidade, esse jeito de ir ao cerne da coisa, sem rodeios, e não ver-se poeta, apenas um lançador de papéis picados ao ar, enquanto caminha...
E nessa caminhada a ver estrelas e arraias, dizer-se reverso, num verso em que caminha a destilar o vinho. Só um poeta pisa bagos na poeira e prefere, retoricamente, não vê-la, mas, dizê-la.
Antes que me embriague nesse lagar de teu cotidiano de poeta,
resolvi te imitar lá no meu blogue e creio que não tive bom resultado. Desde o dia 01/07/09 que exercito uma caminhada impressionista, que chamei de "dauriniana'.
Temo pelo efeito alcançado. Há quase nada de ti naquilo lá.

Abraço fraterno e sempre admirado com os teus "issos".