20 junho 2009

(lendo um romance japonês)

Um leve sono, um cochilo com a cabeça
encostada no vidro, na janela, na paisagem.
Passa, o que passa? Acorda-se por tímida luz,

mesmo que caia a noite. A vida. O vento frio tocando
o vagão vazio, um coração cheio de jazz, uma cadeira
a girar. O encontro será lindo. Um olhar

sobre a paisagem é moeda de ouro que se lança ao ar
sem usura. Só a poesia sabe, mas guarda segredo
das tristezas. O que fala é o livro, beleza e tristeza. Sinos.

Não mais amar assim. Amar sem resistir, ou, desistir.
Um desejo puro que não faça sofrer, um desejo
sujo de amor que se quer reviver. Só ver, basta.

Não. Revira-se em movimento um parágrafo,
o coração. O coração num parágrafo, preso.
A leitura não chegará ao fim antes da última estação.

6 comentários:

Paula Barros disse...

Dauri

"um coração cheio de jazz" ou "O coração num parágrafo, preso"

É uma beleza literária, antes de tudo, essa criatividade me fascina.

Depois fiquei imaginando o coração como simbolo da emoção, o mesmo que dança, saltita, pulsa...o mesmo que se cala, fica preso e chora.

bom domingo, com música no coração.

Joice Worm disse...

Para que comentar o que é belo por natureza? Até me deu vontade de criar uma personagem com a vida neste momento descrito por ti, Dauri...

Um beijo por agora, vou escrever sobre ela.

Sueli Maia (Mai) disse...

Não compreendo bem a estrutura ou a desestrutura dos 'haicai' mas sei que teus textos são singulares e originais.
Muitas vezes mesmo sem desejar classificar, apenas sentindo os percebo híbridos. Até porque insistes em não-poetar.

Mas a poética está ai, na seleção que sempre nos ofereces e há algo que é lírico e algo bem concreto, sempre. E sempre gosto.

Unknown disse...

"Não mais amar assim. Amar sem resistir, ou, desistir.
Um desejo puro que não faça sofrer, um desejo
sujo de amor que se quer reviver. Só ver, basta."

Essa foi a parte que mais gostei. Que lindo, Dauri. Sempre escreves palavras tão bonitas. Parabéns. Ah, estava sumida por conta das provas, mas já voltei para continuar a ler seus poemas belíssimos, ok? Beijos!

Anônimo disse...

Deu vontade de viajar... De ônibus!

Gostei :)

Germano Viana Xavier disse...

Certezas que nos incertam...
Só mesmo a poesia.
Só mesmo.

Abraço forte, Dauri Jack.
Sigamos...