XII
Quando não parto esqueço partes de mim,
dele, dela ou do passarinho, as asas.
Tardo
em lembrar e não me resgato. Posso aprisionar-me
em poemas. Um não-poeta apareceu, e me fez
ter
uma nova opinião, apocalíptica, sobre poesia.
O que pode ser dito, em poesia, por não-poetas?
Pejo é palavra de poder e de sofrimento. Que me
despeço,
mas não me despejo. O que será contemporâneo,
não sei. Eles lá é que sabem. A palavra,
a alheia,
a estrangeira, talvez. Vidar é o que tento,
não-poeta que já sou, penso em cuidar
de uvas e adoçar a vida com um vinho
que destilo,
de leve embriaguez. E ir. É noite.
Quem tem luz para o corte,
a ferrovia,
a minha via. Eu mal via,
mas mentia que via, querendo ser poeta.
Eu via os trilhos alinhados,
certos,
tão organizados, como nunca a vida.
Quando parto, rápido amanhece.
Quando
tardo a tarde me adoece de uma síndrome,
meu Deus. Um não-poeta me apareceu
e me instruiu, me mandou partir,
brincar
cada vez mais, sem voltar. Ir. Ir, seguir,
ouvir música, dançar como índio, falar as palavras
e sentir
a unção, o filete refrescante sobre a pele quente.
12 comentários:
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Penso que um não poeta, dificilmente entenderá o mundo particular dum poeta...
Acho que o verso não aprisiona, mas, sim, dá asas às emoções que, de outra maneira, ficariam aprisionadas na alma...
Lindíssimo seu poema em forma e conteúdo!!!
Sempre um grande prazer, ler o que você escreve...
Beijos de luz e um dia muito feliz!
Zélia ( Mundo Azul)
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Poemar, poetar...escrivinhar palavras, libertá-las de dentro da alma...é um ofício...
E você o faz com sabedoria e prazer...o prazer de escrever...
Um abraço na alma...
Vim ouvir/sentir o "Não-poeta" que há em você, Poeta.
Um baita metapoema!. E, com ele, uma poética de não-poeta.
Tens a unção e nós é que recebemos o refrigério desses filetes n'alma.
Abraço fraterno.
Definição de poema, poesia, poetas...é a definição quando a alma se remexe, dança, suspira, se inquieta....sorri, pula, brinca dentro do peito, e faz os olhos suarem, gotejando pelos poros da menina dos olhos a emoção.
E assim me prendo a poemas que se dizem não poemas.
hoje deixo um cheiro.
Querida Zélia,
Um não-poeta - eu, inclusive - admite e cultiva a poesia, mas renega o termo poeta para si. Livremente não quer este lugar. Ele, o não-poeta, se esforça para entender, ver, sentir a poesia, mas não se entende como poeta. O não-poeta - eu, entre eles - vai por ai pelas ruas do século XXI. Espero se capaz de, qualquer dia, me fazer entender. Devagar me explico. O próprio poema, metapoema, já é uma tentativa.
Obrigado,
beijo,
Dauri
a pedraria
a pedra
o pedreiro
a pedra
o poema
o poeta
Continuemos, Dauri Jack.
Abraço forte.
Dauri. Não vale tanto esforço prá ser não-poeta... Terá que re-nascer. Antes, mourejar nesse afã de contar seu mundo particular. Ele é seu mundo. Nós, leitores, construímos os nossos, com os eflúvios emanados das entrelinhas e sussurros que captamos dos seus "vãos". Eles nos chegam, banhados do seu plasma, do seu sangue, das suas entranhas abissais... O não-poeta o manda "partir, brincar/cada vez mais". E você, obedece, sem perceber, a voz e o mando da própria Poesia.
Beijos muitos!
Dora
Dora,
não há esforço em ser não-poeta. É natural ser não-poeta. Mas como não aceito mesmo o termo poeta, tenho falado disso.
Este meu sangue, plasma, entranhas abissais - como você disse - são do não-poeta. Afirmo a poesia, nego o ser poeta. Esta é uma condição para eu continuar no cultivo da poesia. De certa forma anseio em gerar a confusão na cabeça das pessoas, sugerir outros modos de ver a poesia. Por aí.
Beijo.
Dora,
lembra a brincadeira: cadê o toicinho daqui, o gato comeu, etc, etc, etc...
O rato roeu a roupa do rei de Roma...
Pois as palavras são brinquedos.
Estou a cumprir o que o não-poeta sugeriu: brincar.
Beijo.
Dauri. Brinque. Brinque com palavras. E será um "fazedor de poesia"...rs
Eu entendo sua colocação.
Também não sou poeta(ou poetisa). Mas, não me importo com ó rótulo que me colocam.O que importa é o que EU SEI de mim.
E também adoro confundir as pessoas!
Beijos.
Que belíssimo colóquio encontro aqui, entre a Dora e o Dauri. Nenhuma academia, nenhum debate acalorado em mesa de universidade seria tão enriquecedor.
Abraço nos dois.
Dauri, isso é puro deleite, é mel, é palavra-poema-transe.
Que artesanato, moço.
amei
beijos
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