23 abril 2009

IX
(dedico aos amigos blogueiros)

Estou pensando em usar
na canção do mundo que vou compor
(ou cantar),
algumas palavras, certas,
dos solitários e dos andantes.
Elas carregam
muitas e valiosas coisas,

como terras e flores
que servem para consertar
os sentidos
quebrados, os meus, inclusive.
Percepções que se despedaçam, dias
que se perdem,
amor que desaparece.

Pensar os dias perdidos pode doer.
(Meu Deus, quantos já perdi).
Mas a canção
falará de amor assim mesmo. Saberei
os perigos do labirinto azul e o risco
de se levantar
ventos no inconsciente do monge.

Os ritmos que se sobrepõem
na canção do mundo dão um predomínio
de ingenuidade
no tom do olhar. Muitos livros por obrigação de ler
enfraquecem o silêncio do olho. O que ando
lendo
me disfarça, então finjo. Fujo.

Fujo para um abrigo depois da curva
e volto cabisbaixo pensando em retomar
a canção
do mundo que vou compor.
Mas é estranho e lindo, ser ave ou vagalume,
ser
outra coisa e não-poeta e (viver demais de Poesia).

7 comentários:

lula eurico disse...

Toda vez que aqui chego surpreendo-me. Hoje encontro um mundo nascido ou nascendo das palavras dos andantes e dos solitários. Uma canção feita de coisas simples, como terra e flores, mas que consertam os sentidos, as percepções despedaçadas.
Inventa o mundo, Poeta. Mas nos deixe viver essa canção!

Abraçamigo.

Paula Barros disse...

Não gosto de ser desconhecida de alguns blogueiros e até faço o que posso para conhecer alguns. Você, gostaria de conhecer. Mas pense que as vezes para se conhecer um blogueiro existe mas descaminhos que caminhos.

Voltei, volta comigo a andarilha.

Essa frase é a minha de hoje - "Saberei os perigos do labirinto azul e o risco de se levantar ventos no inconsciente do monge".

Sempre há riscos...sempre há um preço a se pagar...(voltei de Brasília pensando nisso)

beijo

Beti Timm disse...

Oi, Dauri,

A dor por dias perdidos, é como a dor por sonhos não sonhados. Esteve ali, tão pertinho e ao mesmo tempo tão longe. E nada se pode fazer a não ser lamentar ou reinventar novos dias e desta vez não perdê-los.

Beijos e muito prazer!

Fabricante de Sonhos disse...

Identificação e reconhecimento.
Estas são minhas palavras, para teu texto.
Gostei por demais deste teu cantinho, meu poeta!

Voltarei!

Tenha um ótimo final de semana!

Fique com um beijo meu...

Fabricante...

Dora disse...

Eu sou blogueira e me considero sua amiga...Então, me aposso das "coisas valiosas" que me ajudarão nos momentos mais penosos como aqueles de "pensar os dias perdidos".
Elas( as coisas valiosas) trazem o amor e me protegerão dos perigos do meu recôndito "eu".
E me ensinarão a "lição do olhar"(que o poeta já aprendeu).
Essa canção-oferta me ensinou que, mesmo não sendo-poeta, pode-se viver da Poesia.
Obrigada, pois, Dauri.
Beijos.
Dora

Márcio Ahimsa disse...

Ser vagalume é ser livre para poder voar pelas arestas dos sonhos. Ser poesia é ser a essência desprendida que leva os homens e as flores a pertencerem a um mesmo mundo de possibilidades.

Sueli Maia (Mai) disse...

Uma canção que faz nascer mundos, palavras, homens, entes...
Como gosto de ler essas tuas invenções. E o que mais gosto é que rompes superfícies com coisas absolutamente inovadoras. Esta é a tua assinatura, Dauri. Leio-te desde a ultima primavera e não lembro de haver lido aqui invenções em palavras - teus issos - essas palavras...

Mas aqui parecia q via pessoas falando para dentro... escrevedo, caminhando cabisbaixas...
Homens silentes transcritos palavras. tua palavra.

Carinho,

Mai