11 março 2009

Per aspera ad astra, pelas aspereza às estrelas, continuando no deboche de mim mesmo,
do que escrevo, dos versos que não são versos, ... Obrigado, amigos, pelos comentários.
Ando abarrotado de rascunhos, de idéias, mas com preguiça de fazer acabamentos e postar.
Meu carinho é certo, mesmo que sem navegar nestes dias pelos blogs dos amigos. Um beijo.


V

Olho, no claro voam os peixes,
no escuro nadam os gansos,
Escher elabora poesias e simetrias.
Paro, antes de existir o jardim só existiam
o céu e a terra. Não sei quando, no chão,
no pó seco e resseco
surgiu sem propósito, ou por milagre,
um rio. O rio
abriu um canal, criou um barranco
úmido e lodoso, donde, num belo dia,
por um raio talvez, caiu um torrão.
Um torrão. Caí, nasci,
saí, me desbarranquei.
Acordei de mim, me vi imagem
das coisas do alto, das de baixo também.
Eu não sou eu, sou a imagem.
Sou sendo a imagem. Não sou. Confuso. No claro
voam os peixes, no escuro
nadam os gansos,
me vejo assimétrico e tonto.
Me convenço, por raciocínio, que sou bom, sou feito
de um torrão de um barranco de um rio de um jardim.
Repito: sou de um torrão de um barranco de um rio
de um jardim. As flores e todas as belezas
surgiram comigo, depois de mim,
pois que dei nome para cada capim:
capim santo, capim meloso, capim cidreira,
capim colonial, capim brachiária, capim roseira
capim orquídea, capim poesia, capim doideira,
capim amor, capim humildade, capim natura, capim cultura,
capim eu, capim você. Sopra um vento
passa um tempo, o capim que vicejou logo secou.

Ai, a palha queima. Me queimo antes, de amor.
É o que vale a pena... vale a palha... a vida.

8 comentários:

lula eurico disse...

Tenho demorado a comentar para abosorver melhor as séries. Mas não perco a fruição que é a leitura de tua Poesia.

Paula Barros disse...

O acordar de nós por vezes se faz de forma confusa.
Mas esse acordar é que nos faz voar.

Achei ótimo a idéia dos nomes dos capins – principalmente o doideira, humildade, amor, cultura....

E fiquei pensando, estou com muita razão tomo chá de doideira, falta de amor um chá por favor, para ausência prolongada um chá de você....para devaneios um chá de eu.

E fiquei olhando a fazenda ao lado, a neblina e vi a plantação de capim.

O amor devia não arder e não queimar, devia ser só energia de vida.

(hoje pensei até em enviar e-mail para saber de você)

beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Dauri.

Achei interessante que as palavras parecem ter um tom bem 'bruto' e, em certo sentido me leva a ter um pouco de dificuldade de me referir ao teu prólogo. Dizes lá em cima que trata-se de uma espécie de referência a ti mesmo e não consigo, por mais que me esforce ou leve ao deboche, imaginar-te assim... Desbarrancando-te...

O texto é lindo.
Eu me encanto com a escolha das palavras e esse tom que propões em tua escrita.

Sou bem suspeita e isto nunca escondi.
Continuo aqui.
E mesmo que por vezes eu não comente, eu te leio sempre. E gosto muito das tuas palavras, teus 'issos' como diz meu amigo de infância, o Eurico.

Beijo,

Mai

vieira calado disse...

Um poema bem brasileiro, esse!

Beijinhos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO DAURI, SUBLIME POEMA SE LIDO DEVAGARINHO MASTIGANDO CADA LETRA... PARABÉNS POETA... UM GRANDE ABRAÇO DE AMIZADE,
FERNANDINHA

NEGROPOETA disse...

E vale pela poesia, poesia assim, que não precisa secar para sentir o seu aroma, o seu sabor, poesia capim. Carinhosamente Dinigro Rocha.

Germano Viana Xavier disse...

Lembrei-me do "Dr.Xarope", um homem que vende ervas "santas" na feira da minha cidade natal há mais de 30 anos, no mesmo lugar.

Abraço forte, Dauri.
Continuemos...

fjunior disse...

o amor queima na palha ou a palha e o que sobra é a vida, o retorno, talvez um novo jardim, no futuro.