14 março 2009

Continuo falando insignificâncias. Inversos tristes. Deboches. Per aspera ad astra. Ficção. Não se esqueçam. Crio personagens, elaboro suas falas. Poemas não são necessariamente confissões; os meus são muito mais ficções. Ficções que passam pela minha mente e pelo meu coração. Conscientemente escrevo inversos. Ando procurando caminhos contrários aos dos versos, das poesias. Falo insignificâncias, tristes insignificâncias . Prometo uma NOVA SÉRIE mais "normal". Obrigado pelas visitas e comentários.

VII

A porta do armário estava aberta, amor,
levemente aberta,
e o infinito entrava por entre os tecidos.
O vento que soprava não tinha poder de fechá-la
ou abri-la, de vez. Ele tocava
nas mangas das camisas em suaves movimentos,
bandeiras cansadas dos territórios do corpo,
das lutas dos dias. Quis gritar por ti. Mas não,
não te chamei. Prestei atenção.
Um instante de universo atravessou
com o meu próprio olhar a fundura do espaço do armário
alojando ali, por detrás das roupas,
um lago, imenso lago, quase um mar
de águas mornas e sem marolas.
Um vento mais forte não veio
e tudo ficou imutável por um longo, longo tempo.
Olhei. Desejei um alento, um ímpeto, um impulso.
Nada. Tive a impressão de que em algum lugar do mundo
uma paixão se esvaía por causa da porta do armário.
A paixão se esvaía por ali, pelo universo que
se expandia no vão da porta.
Quis impedir, levantando-me para fechá-la,
não consegui. Eu não tinha forças. Repeti, como oração,
a frase per aspera ad astra. Sem efeito algum.
Desejei o mistério daquele momento
para pensar para ti, meu amor,
um poema lindo. Nada. Só o cansaço,
o torpor, o sono sem dormir, as lâminas afiadas das horas,
o calor, o vulgar dos dias, o ordinário
proclamando seus deboches.

17 comentários:

Unknown disse...

Parece que estás bem confuso. Respire fundo e tente colocar as idéias no lugar. É o que eu tenho a dizer.

Paula Barros disse...

Nem, li. Quando vejo atualizo, eu penso, ai meu Deus. Sei que Deus não tem nada a ver com isso,mas respiro fundo e entro.

Vou ler e me emocionar. E volto!

bjs

Paula Barros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paula Barros disse...

Dauri,
Queria comentar feito gente grande normal o que você escreve, mas não consigo de primeira.

E se você escrever normal e eu entender e não ficar mais baratinada?

Hoje estava pensando que você realmente não é poeta. É uma alquimista das palavras. Transforma a palavra coisa, a palavra bruta em palavra ouro.

Estou enrolando, só para ficar pensando.

Gosto da sua forma de escrever, ficção ou realidade. Gosto do que sinto.

Ava disse...

Diante do que a Paula Barros escreveu, eu me calo...rsrs
Apenas digo que amo seu jeito de escrever!


beijos!

Wellington Felix disse...

meu querido poeta, acho que você, ja se deu conta, que o poema se incorporou nas fibras do seu coração, não adiantas mas negar, pois como fibras oticas, elas se iluminam e transmitem luz, pura, limpida e clara, e todos nós enxergamos
parabens Poeta por fazer-nos sentir chorar e amar infinitivamente amar
inspira-dor-a-mente amar

Sueli Maia (Mai) disse...

Muitas vezes eu já ri de mim nesse estranho estado de torpor mental... Entre a vigília e o sono, o cansaço desmaiado numa cama, alucina...

Muito bom isso!

Te falar que quando o que vem são os diálogos de amor, tudo bem... São bárbaras as lembranças...

Mas quando esse estado de 'torpor' alucina o pavor!!! Transforma as camisas do armário em fantasmas persecutórios e cobradores.
Ai o coração acelera e quase sai pela boca...
O cansaço e o deboche ficam registrados no 'fisiológico' mesmo.

Eu realmente estou adorando essa série.
Bem surreal mas outra vez brilhante o teu encontro com as palavras. E eu aproveito.

Beijo,

Mai

Carla disse...

Acho q vc já deixou o infinito entrar no tecido de seus textos.

Como sempre, lindo poema!

Ava disse...

Dauri, as vezes venho aqui, entro, leio, releio e saio caladinha...rs
É que é tão bonito a forma que escreves, que falta, e me falta mesmo, palavras para fazer qualquer elogio...

Mas um detalhe que queria comentar, já de outras visitas, são as fotos... A casa da fazenda e as estradinha da roça...
Minha infância tambem teve uma casa parecidíssima com essa, e com uma cozinha onde minha infancia passou, ou eu passei por ela...
A cozinha da casa dos meus avós!
O fogão a lenha, a mesa grande e farta, as quitandas assadas naqueles forno a lenha, a rapadura, o melado, a garapa no engenho, tocado com uma junta de bois...
Só que era no interior de Minas Gerais, próximo a Belo Horizonte, e avos descendentes de espanhois...
Só pra vc entender a afinidade que tenho com seu blog... com suas fotos, com seus textos!


Beijos!

Anônimo disse...

Tem selo pra você no meu blog :D
Bjos

Germano Viana Xavier disse...

Tua poesia parece sair de uma insistência mórbida, de uma psicose, de uma pulsão patológica, doentia.

E Linos disse que isso é bom.

Abraço forte, Dauri.
Continuemos...

*andorinharos@ disse...

Dauri Batisti!
Como entender a magia ocultas nos versos dispersos de tuas composições!? Nossa, se um dia chegar a metade destas belezas tuas, serei feliz, serei contente!
beijok e obrigado!

Anônimo disse...

circunstâncias.insignificancias objetivas com ar de querer e não poder. coisa e tal!

lula eurico disse...

Grato pelas palavras. Aqui e lá no Eu-lírico. Pelo vão da minha porta tb estão se esvaindo universos. E confesso a minha impotência: não consigo evitar.
Abraçamigo, fraterno e sempre admirado com tua Poesia.

Jânio Dias disse...

Bela e tensa visão por detrás das portas abertas do armário.

Sempre melhor abertas. Um convite para a entrada. E o vento nunca é barrado.

Grande Abraço, Amigo Dauri.

:.tossan® disse...

Eu sou egoísta, o que me importa é a tua poesia. Ela é forte, quase um
enígma, mas lendo e relendo, sinto-a linda! Abraço

Leandro Jardim disse...

belo poema, caro Dauri!