27 janeiro 2009

(mais um incoerente poemeto - o sexto - da série umas coisas
jogarão luz nas outras)

Falar coisas de uma manhã de domingo
com pequenas gotas de sereno no capim
não é fácil. Falar coisas do que se avista
da janela em dia de chuva também não.
As plantações, coisas nada além de solidão.
Arrumar-se para ir à igreja e depois beber,
e voltar. Melhor seria ir. Melhor seria se
fosse segunda-feira e só o trabalho pudesse
preencher os vazios das coisas. Em tudo
há um buraco, não só em mim há uma falta.
As coisas não são sólidas. Podem ser. Arrear
um cavalo e sair pelos montes em desato atrás
de vacas e bezerros, paisagens e saudades.
Ir-se e embrenhar-se pelos campos, esconder-se
num recanto qualquer debaixo de uma árvore
e pensar olhando para o reflexo por entre as folhas.
O riacho ao lado. A zoada. Isto é uma coisa.
Outra coisa é a palavra dita, vaporizada,
como perfume para quem se ama. Amar...
por falar em amar... que coisa engraçada!

14 comentários:

John Doe disse...

é como se tuas palavras fossem meu momento, e pelo visto não sou o unico a falar de solidão nestes dias...

Sueli Maia (Mai) disse...

Tá...
E por falar em amar...
que é que tem o amor e o amar?
Olha falar o que dos vazios? Falar o que dos abismos?
Eu posso dizer é que esse 'poemeto' se assim o queres chamar é escrito em 8 milímetros...
Vi ação, e na ação não há vazio, há preenchimento com coisas...
O que preenche o amor?
ah!
E por falar em amor...
Beijos.

gloria disse...

"Em tudo há um buraco, não só em mim há uma falta." Fértil esses buracos que nos atiçam a criar, a povoar com linguagem esses vácuos. Bom vaguear no teus escritos!

Jorge Elias Neto disse...

Dauri,

Acabei a revisão de meu livro "Rascunhos do absurdo" e inicialmente deixei de fora do poema sobre o mito de Sísifo.
Após seus dois comentários resolví que ele fará parte. Eu também gostei muito dele; foi fruto de um momento importante de minhas reflexões e leituras.
Muito obrigado por sua opinião.

Jorge

Paula Barros disse...

"Outra coisa é a palavra dita, vaporizada,
como perfume para quem se ama"

Imaginei um vidro antigo de perfume, vaporizando amor...mas palavras perfumam a alma, dão brilho aos olhos, me faz sonhar, viajar....e amar. Um amor que sinto amor, mas que não é o amor que se fala.

bjs

paulo disse...

... o que é espelho acaba por chamar atenção.

aqui um bom lugar, gostei! voltarei por cá!

abraços...


paulo

Letícia disse...

Quase nunca apareço. Acho que só estive aqui algumas vezes, mas dou de cara com algo que nunca ouvi:

"Amar...
por falar em amar... que coisa engraçada!"

(Dauri Batisti)

Sim, eu começo a acreditar nisso.


Sei que meus posts são longos... não se preocupa em retribuir a visita não. Virei sempre.

Bjs.

Jade disse...

O vazio das coisas...o vazio da solidão...pelo menos tens estas palavras lindas que certamente têm o dom de preencher o buraco negro que às vezes se cria na alma.
Um beijo.
Gosto muito de ler o que escreves

Jade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
anareis disse...

Estou fazendo uma campanha de doações para criar uma minibiblioteca comunitaria na minha comunidade carente aqui no Rio de Janeiro,preciso da ajuda de todos.Doações no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Que DEUS abençõe todos nos.Meu e-mail asilvareis10@gmail.com

SD disse...

Em tudo há mesmo um buraco, que não tem fim nem começo, como um buraco negro...
E amar, concordo, é por vezes uma coisa engraçada!

Márcio Ahimsa disse...

Ah, Dauri, amor é engraçado mesmo, ainda mais que nada parece ter razão alguma. Mas é bom para quem sente, melhor para quem recebe. E não é só desse amor homem-mulher que falo. Falo do amor numa forma mais abrangente, de pessoas para pessoas, de seres para seres, assim, como do vento para o capim, que varre, varre, varre...


Abraços.

Vivian disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivian disse...

..."AMOR"...amar...desamar...
buscar...encontrar...
desencontrar...preencher...
esvaziar para respirar.

a eterna roda dos vícios.
pensar...pensar...pensar,
e a nem um lugar chegar.

bjus, lindo poeta.