30 janeiro 2009

II

Há um desânimo, um descabido
de dizer as palavras no esmeril
e cortar frases na guilhotina.
Grafar o quê? Panfletos?
Ando em estradas tão comuns
que sequer uma alamanda,
com um galho esparramado pelo chão,
se arranja em florir seu amarelo para mim.
M3 enumer9 5m c0ntagens e44adas
d4s coi5as b8as qu6 v8u vive4do.
3screver é um 7ício a s3 b4incar,
um2 pr9sa ante6 d4 no7te
pa5a qu3 a 3oite 5eja b0a.
É 2spera d1 so5hos b0ns
reno7ando a5 fo4ças par6 a lu7a,
par2 s3 i4 9ela es7rada afo5a. É issO.
Po6e at3´ te5 po3sia, a v7da, 5empre,
m4s 9oe5ia qu8 nã0 c4i 3m liv5os.
A2 letr4s escor4egam da5 pá9inas,
c4em na 4ede e de9ois v6zam par5 0 m2r.
7udo se a9aga d3 tud0, s2 a9aga 4e m1m,
e me 1nterpreta. 3ntão cho4o 0u 5io,
con7orme o 6ia.

12 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

é mesmo espantoso o que experimentas...
Porque os signos estão como que formatados em nossa memória e a percepção se encarrega de completar as faltas e as substituições...
fantástico.
Muito bom.
Assim também fazemos com a palavra escrita..
completamos com o nosso sentido. Com aquilo que em nós faz sentido tenha sido ou não aquilo que o outro queria dizer.
Percepção e linguagem.
Experiências cognitivas.

Bárbaro, amigo.

'Escrever é um vício'.
É sim
e dói. Dói, sim.
Nem sempre é brincadeira e prosa para a noite...

Paula Barros disse...

Entrei por uma estrada que devia ter uma alamanda. Não conheço a alamanda, nem sei se tem outras cores fora o amarelo, ou se exala algum perfume, mas tinha...e por não conhecer a alamanda, me intrigou, pulei flores e pedras, me instigou, peguei palavras pelo caminho, me juntou.

(até aqui estava pensando....)

Palavras embaladas na rede, correm na veia, me encontram, me esvaziam ou enchem feito o mar, encontram meu rio. Também choro ou sorrio, escrevo então.....

beijo

Márcio Ahimsa disse...

É, tudo corre para o mar, e vc chora ou ri... Isso é viver, em desmedida de sonhos, talvez sonhados, talvez plantados.

Abraços. Continue tendo esse vício, é bom, muito bom.

Carla disse...

Nunca fui muito fã dos números, mas esta mistura deles com as suas letras ficou fantástica.

Bjos

Solange Maia disse...

"Falar coisas de uma manhã de domingo com pequenas gotas de sereno no capim não é fácil."
... palavras que jogaram luz em mim...
Gostei de tudo, não conhecia, quero voltar... muito bom ! Lindo !
Parabéns !
Quando der visite meu blog também :

Beijo !
Solange Maia

http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

Sandra Leite disse...

Dauri, querido,

Você me lembrou outra poeta fantástica, Ana Hatherly:

"A fala
dá a conhecer
o ardor da palavra
o frio fio de seus gumes

A palavra percorre o ar
entra em nosso peito docemente
ou então agudamente
ferindo
agredindo
destruindo tudo

A palavra é
uma vertigem de espuma
mas quando quer
penetra a fractura íntima do sentir
desvenda o imenso mal
o puro escândalo de existir".

(Ana Hatherly in “O Pavão Negro”)



Ritmo e profusão de cores, sons e rimos. Lovely!

beijo

Sandra Leite disse...

*ritmos

Anônimo disse...

Caro Dauri,
penso que agora entendo os códigos dos dois últimos poemas. "É espera de sonhos bons renovando as forças para a luta" - bonito isso, e mais bonito é saber que escreves como um jeito de brincar. Isso, também é renovador para enfrentar as lutas diárias.

Rosemeri Sirnes disse...

Amigo grande poeta Dauri, você é extraordinário! É tudo um encanto só e supreendente. Me fez lembrar de uma música de Caetano "Outras palavras" em que ele diz "Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz
Ouraxé, palávoras, driz, okê, cris, espacial
Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid
Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel paraís de felicidadania:
Outras palavras".

Beijos

Vivian disse...

...as letras escorregam
das páginas, caindo na rede sim.
mas antes de cairem no mar,
deixam-se banhar pelas emoções
feito lágrimas em olhos alheios.

você é mágico.

bjus

Elcio Tuiribepi disse...

Não importa se choro ou se sorrio, a vida não para, não espera, contínua, ela segue rasgando os caminhos da gente...um abraço na alma.

ex-controlador de tráfego aéreo disse...

Oi Dauri!

Se o poeta chora a poesia brilha.
Se o poeta ri a poesia brilha.
Então é melhor ser poeta, sempre.

Lindas poesias, camarada.

Um abraço fraterno!!!