10 janeiro 2009

(Eis a sétima deambulação alquímica, não sei quando isto termina. Peço paciência)

Quando sinto as vazias, penso folhas secas, palhas, resinas,
bálsamos e perfumes. Também penso espadas afiadas, baratas,
corpo morto, sangue férreo pisado, raivas, guerras.

Ainda assim escrevo alguns universos, deslivrados e bizarros,

que se enchem de versos, de pontes para todos os lados.
Atravesso as pétalas dos dias, e sempre me dou de cara, surpreso,
com minhas vazias. Todavia encontro também meu espírito e a poesia

do teu coração em ajuntamentos de amor, confidências, espantos.

As montanhas e o mar do Espírito Santo me aprovinciam
de ingenuidades, eu sei. É que empalavro os barcos e as enseadas,
os beija-flores e os marlim-azuis. Perco tempo derramando

o mar das pequenas conchas, inventando mundos, arremessando
palavras sobre a superfície. Incontento-me com a placidez
das páginas, dos lagos que me oferecem lirismo e contenção.

Poetas escrevem Grécias, Romas, Paris, luas, muitos livros cheios,

deles necessitamos. De vazias não, mas é o que faço.
Não preciso de inspiração para estourar pedras, elucido-me
entretendo-me. Anoiteço e assusto-me. Vou vivendo.

8 comentários:

eder ribeiro disse...

só os vazios intrínsecos não compreenderiam a completude da poesia em ti, que vazio nada, aqui o poema enche nossos olhos... continue. abçs.

Sueli Maia (Mai) disse...

Olha Dauri, se parares agora, ficaria inacabado, pelo meio. Meio cheio e meio vazio...
Eu penso que de fezes ao ouro, é algo que poderíamos igualemente pensar,
dos intestinos, aos olhos ou, das profundezas de um vulcão que cospe fogo, a um diamante.

Isto é mesmo alquimia da linguagem.
E imagino o esforço brutal de reordenar sentires e pensares, com as mesmas palavras, o que é mais doloroso que o fogo que derrete palavras, é a escassez da linguagem.

Isto, exatamente isto faz do Poeta um Poderoso.
Palavras e seu Poder.
Poder do Ouro.

Lindo!

Eu te agradeço, novamente.

Paula Barros disse...

No pensar diverso, amplo, solto, irrestrito e até o restrito, a emoção borbulha, palavras se juntam. O que pode parecer bizarro é o sentimento transformado em versos, com poesia, do ser, do sentir, da vida. Nas palavras dos diversos mundos forma-se a ponte, quem atravessa é a emoção, no ir e vir. E na rede os diversos fios se tramam, emoções se entrelaçam.
E se descobrem, se intrigam, caminham.

bom domingo!

fjunior disse...

esta série é das melhores... minha favorita... rs

Elcio Tuiribepi disse...

OS VAZIOS AS VEZES SÃO TÃO CHEIOS DE ESPAÇOS QUE VIVEM LOTADOS DE VAZIOS IMENSAMENTE CHEIOS...REINVENTÁ-LOS É ARTE PARA POUCOS...UM ABRAÇO NESTE SEU VAZIO TÃO CHEIO...

Márcio Ahimsa disse...

Das vazias não precisamos, precisamos das janelas abertas, escolhas desertas pelas capoeiras de nós... Precisamos, palavras invertidas, avessos em nós, nosso imaginário marginal, pontes flâmulas por essas mãos, fiapos da ausência humana inundando, inundando, derramamos, assim...

Abraços.

Rosemeri Sirnes disse...

Amigo Dauri, você é incrível! Teus personagens, teus motivos, teus arranjamentos de palavras, tuas reuniões despretensiosas formam cada grande poema, preenchendo cada lacuna, cada vazio, e o melhor preenchendo nossa vida de alegria e poesia.


Beijo grande

FERNANDA-ASTROFLAX disse...

QUERIDO DAURI, DESEJO-TE UMA BOA SEMANA... DEIXO-TE UM ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA