06 janeiro 2009

(Continuando as deambulações alquímicas. Ao final, ouro ou fezes?)

Apalavrar-se de si mesmo para viver, inventando.
Deslivrar a poesia das próprias páginas. Desvirar amor a cada dia.

Uma raiva enraizada, uma trinca desenhada como ódio
se derrama pelas terras na Palestina. Estou longe.
As margens me aprovinciam em cantos lindos na beira do mar
onde vivo, ou em interiores férteis onde nasci, no Espírito Santo.

Estamos tão pertos, nossos textos se tocam, nossas
ficções se combinam em reações de misturas. Rede.

Etiópia é palavra linda. Etíopes também. Há no nome
uma solidão de fome, um resgate de nobreza. Orquídea,
flor de gritos extraordinariamente fortes. Crianças
que recolhem com os olhos o que resta da poesia de viver.

Quando derramo palavras na tela corto-me com pedras,
pedras de estouro, de bombas, entulhos. Meteoritos,

chuva de fogo, esperança de ano novo, nosso encontro
despertando-nos para a arte. Inspiração não é preciso.
Poesia é corte, talho, incisão, paciência de quem pesca nas margens.
Despertamo-nos mutuamente. A pressão sobe quando se acorda.

Saber-se deslivrado. Ser, mesmo que desinspirada, poesia.
Enfuturar-se pelos anos empalavrando nosso amor.

14 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Deslivrar antigos medos de chuva, medos de andar, medos de ser. Tua poesia vem nos deslivrar de nós mesmo e nós-outros-nós, Dauri.

Eu sempre aprendo.

Abraço forte, professor.
Continuemos...

Eu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivian disse...

...embora muito da história
já fora escrito em rubras letras,
há que se lembrar das rosas,
estas que mesmo rubras,
encantam-nos em odores de poesia.

paz

muahhhh

Sueli Maia (Mai) disse...

Querido poeta, doce homem de ternas palavras, meigos versos.

Eu venho lendo e vivendo a alquimia desta série e digo-te, deslivrada de medo: Isto é OURO!

As mandalas e o caleidoscópio, me encantam. Este teu exercício poético, também.
Tenho pensado cada vez mais,
acerca do fantástico, da linguagem.

Se as palavras são as mesmas, como os poetas tonificam-nas
ou sedam-nas, rearrumam em arranjos diferentes, os poemas?

Te imaginei 'jogando' palavras para o alto,com as duas mãos e, na forma que caiam (como chuvas de estrelas em tua mesa), as arrumaste. E de novo... E outra vez... E, novamente...

Nesta arrumação de agora,não percebo mais tanto amargor, tanta dor, tanto escuro, tanto escremento...
Agora sinto o vento, um cheiro, um raio de sol, uma esperança, alegria de criança...

És um mago? Um alquimista?
Um poeta, eu sinto que és.
De ouro!
Tua poesia é tesouro que nenhum 'pirata' há de roubar.
Está dentro de ti.

Quem dera pudéssemos 'forjar' em nós, mudanças assim.
Do bruto da pedra, à delicadeza da pétala, num 'rearrumar', sem medo de ousar.

Violência? Sempre haverá.
Em meus conflitos interiores,em minha 'divisão', Dauri, eu te revelo:
há uma faixa de Gaza, na gaza e nas guerras de mim, pela paz, a minha paz então, em meio à paz, haverá nossas guerras, interiores ou mundiais...

Beijo, lindo amigo. Muitos.

Carla disse...

Que continuemos nos apalavrando a cada dia p/ viver. A poesia, livrada e/ou deslivrada, nos dá força p/ enfrentarmos as tristezas do mundo. Por mais que pareça alienação, ocorre exatamente o contrário.

Daniel disse...

Oi
Adorei o seu blog.
Beijos de Londres
Daniel
www.sembolso.blogspot.com

Anônimo disse...

Empalavrar? Pensei numa plantação de belas palavras, e teus versos sempre são cheios delas. Ótimo voltar pra cá.

Um abraço, Dauri!

Eu disse...

Desculpa Dauri...estive aqui mais cedo e fiquei tomada pela emoção... Me perdi nas palavras...
Achei por bem apagar o que havia escrito!
Mas saiba que apreciei demais!
Abraço com admiração

mundo azul disse...

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Muito bonito o que você escreveu!

Estava muito inspirado, meu amigo...

Beijos de luz e o meu carinho!

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f@ disse...

Des virar o amor a cada dia… não é mesmo isso que fazemos?...

Longe o mar… en cantado … nascer nas dunas … ah províncias pequenas …(olh)ar o horizonte.. flores e os olhos que o horizonte tem guardados … olhos e lágrimas de pequenas pétalas…ser…
Cai uma pa lavra tua na chuva que apaga o fogo … nem precisa nuvens… só céu…

Beijinhos das nuvens

Dois Rios disse...

Dauri, meu querido,

Você é um perfeito artesão das palavras. Nelas você derrama-se em poesia e desafia o medo de desvendar-se.

Com as suas deambulações fui capaz de viajar para além do que um pensamento é capaz. Você tem esse dom.

Admiro a sua arte de escrever e poetizar.

Beijos meus,

Inês

Javier disse...

Dauri, muchas gracias por tu comentario en mi blog, no entiendo mucho portugués pero con un poco de esfuerzo entendí algunas palabras, te dejo un abrazo enorme y deseos de un muy buen 2009!

Saludos!

Pica Pulgas disse...

gostei muito

Germano Viana Xavier disse...

Passando e relembrando...

Abraço forte, professor.
Continuemos...