14 novembro 2008

Enfim, a visão

Visões, asas transparentes,
poços abundantes, fundos.
Em seu encalço, leste brilhante,
me encho de pensamentos, fartos, antigos.
Pensamentos velhos, velhos jequitibás,
no tronco mundo as fibras reconhecem a voz
de cada vento movimento de visões.
De tão velhos, jequitibás, estes pensamentos
estão sempre presentes. Esquecidos, voltam,
relembram o essencial, o que importa.
Os passos de quem busca visões riscam,
sem perceber, faíscas em lenha seca.
Me arde, me queima esta fogueira nos olhos. Procuro,
procuro as visões e me esbraseio de pensar, pensar,
este pensamentos jequitibás, fogo,
pensar o que é essencial, o que importa.
Ela me abraçava todo dia e eu não via,
um abraço comum, diário, rotineiro,
mas um abraço. Ela, a vida. Por todos os lados,
a vida, nada mais. Oculta, secreta, revelada. Dada.
...
Enfim, vejo. Ó! Vejo! Sim.
Carne suculenta de fruta plena de sabor. Fruta
florescida no descampado, preservada pelo lagarto,
doce arrebentando a casca e se entregando
às abelhas, aos pássaros, aos besouros
e ainda caindo mel viscoso no chão,
lindos pingos dourados e cheirosos.
A intenção sedutora sempre será
expor o caroço, a semente, o recomeço.
Felicidade! Ah! Eu aceito vosso abraço.
Ando somando contas passadas;
fogo do que se vive,
do que se é. Terra. Presentes
são muitas as somas que faço, ar.
O caroço que cai no chão agua o recomeço.
A visão enfim: fruta madura, rachada.
A poesia da visão: o que vou fazer com a felicidade?

7 comentários:

lula eurico disse...

àgua, ar, fogo e terra, a fruta que se doa, a semente, o recomeço e a experiencia numinosa do encontro com as origens. Bendita visão xamanica!
Que as forças benfazejas dos antepassados, dos silvícolas nos mostrem as pradarias verdejantes, a fonte da água boa e as manadas de carne tenra...Acendam-se os luzeiros da noite e uma fogueira para aquentar do frio.
Abraçamigo e fraterno.

Qualquer Um (Bigduda Nobody) disse...

Caro Dauri,

Sempre me espanto quando alguém acha minha caverna-virtual (ou blog). Mas, desta vez, a coincidência foi ser visitado por um capixaba (de residência, pelo menos).
Sou capixaba exilado em SP há 30 anos. Mas, ainda acho um absurdo comer peixe sem coentro:->
Agora, a surpresa maior foi seu texto.
Palavras com força. Poesia com personalidade, como coentro:->
Um ab
Edu

ARTISTA MALDITO disse...

Olá Caro Dauri

São fundos os poços, abundantes os pensamentos. Abundante a terra, despertando os sentidos. Um poema que me permite visualizar sentidos de palavras, retenho os pássaros, as abelhas, os besouros, deixando no ar instantes de sons e imagens...visões.

Ainda bem que se agua o recomeço, respondendo à interrogação final...Talvez?

Um beijo com amizade,
Isabel

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi Dauri, são centenários os Jequitibás... Nossas memórias, algo assim, de tão fundas. Tua linguagem-poética me transportou por onde andaste.
Lindo!
Abraços.

eder ribeiro disse...

a felicidade está toda exposta no teu poema, posto que ela encontra-se na simplicidade da vida, quiça embaixo de um jequitibá... abçs.

John Doe disse...

algumas semanas que me ausento e tu tens a coragem de melhorar ainda mais em teus versos, sempre que venho aqui arrumo o que pensar...

Vivian disse...

... e assim é você,
um poeta profundo
como as raízes
do jequitibá!

bjus