Corte, petalas, mãos
– As ruas? rosas, lâminas,
são minhas até à madrugada,
até que os gestos do mundo
se apoderem de novo de cada pedaço.
O clamor lá por dentro, quase prece,
o calor, o suor me chamam
para a força e o esforço, sem o qual
não vou, não suporto.
Hei de dizer o sentimento, todavia
espera um pouco, estou pensando.
Escolho palavras, pois que
isto é manejo de navalha
em alva pele de barba.
O sentimento estranho, ainda mais é,
em peito de mulher. Égua, não falo.
Pesa mais. Quero a dose certa.
O sentir estranho é...
é sentimento cavalez.
Tu me entenderás. Puxo carroça.
Cato, pego, pago o que não se desconta,
fome de criança, filhos.
Papel, papel, papelão. Volta e meia
vidro, lâmina de aço, corte, rosas.
Minhas mãos não são patas,
ainda há por debaixo um quê de pétalas.
7 comentários:
Porque será que te vejo como um cara, calmo, sensato, seguro e justo? Eu mesma respondo... É porque és transparente, Dauri.
Sua sensibilidade não está escondida. Reluz. Escreves o que lemos e o que não lemos, para deixar escrito em memória as entrelinhas que queres que sejam refletidas...
Um espectáculo!!!
Esse corte, essa tomada com algo de cinematográfo, esse close-up do personagem que entra e, cena nos afrontando/confrontando com sua fala...isso é bonito demais.
E essa voz gutural, que derrama sobre nós a seiva, o visgo das idéias do "entrevistado", uma voz meio Riobaldo..meio Rosa. Isso também é surpreendentemente belo.
Há um personagem de Miguel de Unamuno,o Pedro Antonio Iturriondo, do qual fiz uma releitura para um romance meu, que é da rua, que é carroceiro de mão.
Mas esse quê de pétalas é teu, Dauri, és tu, é a tua alma saindo da pedra feito um filete d'água.
E não me venham falar que é o eu-lírico rsrsrs Às vezes ele nos revela, Poeta e Peregrino.
Abraço fraterno e sempre em deleite com teus textos.
Oi, Dauri.
Um dos melhores textos que já li.
Sabe, a poesia me encanta, na justa medida que, com as mesmas palavras-rearranjo, vou aos cenários inesperados de um já-visto, jamais-visitado.
Isto te parece loucura-psi?
Isto é linguagem.
Isto é o poema e o poeta.
És um POETA que adoro ler.
Carinho.
...bom dia poeta da realidade
dolorida!!
mesmo assim com
resquícios de ternura.
bjusss
Dauri, meu caro, toda vez que venho aqui me impressiono com a força de seus ver(s)os. Parece que eles brotam diretamente da alma, e não é necessário mãos para escrevê-los: é a alma quem o faz.
Versos às vezes rudes, obtundentes como as águas revoltas do mar que catigam as rochas. E de uma beleza selvagem e verdadeira.
Escritos com coragem e com beleza. Como já lhe disse, aqui a filosofia e a poesia caminham de mãos dadas.
Abraço do João, seu admirador
Este blog tem música, tem dança.
Nós, os observadores do espetáculo, ficamos aqui: alguns a balançar os pés no ritmo; outros, como eu, a tatear os silêncios por entre os passos, entrelinhas.
As ruas devem ser mesmo lâminas a cortar a cidade...
Tenho vindo aqui frequentemente. Inevitável.
Bons Ventos!
Espátula de pata à pétala move o q remove nossos olhares.
Dauri, beijos!
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