30 outubro 2008

Un cuore senza poesia è come una cattedrale vuota

...alguma coisa. Tarde da noite,
escuro como breu. Estranho ruído.
Colamos o ouvido na porta.
Alguma coisa... o que será?
Batiam à porta. Batiam nossos corações.
Depois de um tempo sentimos vontade
de dizer qualquer coisa. O que importava
era falar em voz alta e recolher o que viesse
como resposta do que batia. Nada saía.

Nada respondia.

Resolvemos, quando o barulho cessou,
bem depois, abrir a porta. Nada, ninguém.
Reconhecemos por um pequeno rastro
quem nela batia. Quem à porta batia
era uma espécie de poema
não muito conhecida, de pouco valor.
Não acolhido se retirou, sabe-se lá para onde,
e deixou na soleira da porta a tal pista,
uma frase, pequena incógnita frase:
a catedral está vazia.
Parecia a frase final do poema, perdida
pena de asa batida, que se desgruda
exatamente na hora de alçar vôo,
quando o esforço é maior.

Tomamos a pena e choramos, choramos.
Mesmo sem valor, aquele era o nosso poema,
a nós oferecido pelos segredos do mundo,
para aquela noite que vivíamos.
Choramos abraçados e depois rimos, rimos muito,
esfregando a pena no nariz um do outro,
nos olhos e nos ouvidos, a catedral está vazia,
nas mãos, no corpo todo, no coração.
Com a brincadeira e a dorzinha do poema perdido
instituímos sem perceber uma liturgia, um rito, uma magia
que celebrava o que perdíamos e o que ganhávamos no amor.
Nutríamos uma esperança: o poema retornaria,
mesmo que outro, e ainda que não mencionasse,
por delicadeza, que a catedral estava vazia.

13 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Olá Dauri, já li os outros, e eles se completam harmoniosamente, é o que me parece...rsss...
Se eu estiver enganado, perdoe-me, mas independente de qualquer outra coisa, o que fica são as palavras, numa bela brincadeira...Boa quinta para você, um abraço.

Eu disse...

Bom dia Dauri!
Em primeiro lugar gostaria de agradecer por iniciar a minha manhã lendo algo tão belo.
Sensível e de grande inspiração!

Em segundo gostaria de agradecer a visita e as palavras!

Que seu dia seja repleto de dádivas!

Abraço carinhoso

ARTISTA MALDITO disse...

Obrigada Caro Dauri

Adorei este poema, iniciado na língua que eu mais amo, embora já esteja destreinada, mas leio em italiano, falar só se me espevitarem a memória.

Gostei de ter entrado nesta Catedral, assim também eu falei alto e as catedrais têm uma acústica fantástica.

Beijinho de amizade
Isabel

Fábio disse...

Muito interessante o seu relato, extremamente realista e muito emocionante. E estou a procura desse poema, gostaria que ele retornasse tambem

abraços

Vivian disse...

...querido poeta, amo quando
lhe 'vejo' em minha casa.

quanto ao post,
realmente um coração
sem poesia bate descompassado,
pelo ôco que alí há.

mas tbm existem tantas outras
formas de poemar, ou poetar,
num simples ato de encantamento
pelo rei sol despontando na alvorada.
na pureza existente num jardim
de margaridas,
no olhar inocente de uma criança,
nos acordes de uma melodia
que embalam nossos sentidos,
no simples ato de estar aqui
'falando' com o poeta...

viver é poesia, não?

bjus

Camilla Tebet disse...

Que figura linda a da catedral vazia.. mas o mais lindo no texto é a esperança que ela se encha de novo. e o amor? O amor se renova... lota.

Camilla Tebet disse...

É preciso saber que as vezes a catedral pode se esvaziar, não é? E o poema bater à porta e ir embora, deixando só uma frase. É preciso saber.
adorei esse texto. Coisas importantes ai. coisas importantes.

Anônimo disse...

". Quem à porta batia
era uma espécie de poema
não muito conhecida, de pouco valor.
Não acolhido se retirou, sabe-se lá para onde"

Adoro vir aqui e mergulhar nas suas palavras!

Bjosss

Oliver Pickwick disse...

Um fato inédito. Além da beleza, este poema - como num thriller, causa expectativa, ânsia saudável de ler até o final.
Um abraço!

Anônimo disse...

Dauri, você também escreve contos? Porque, sei lá, teus contos seriam sublimes. Já gosto da poesia, então os contos seriam recheados dela, só que não em versos. Muito bom, cara.

Há imagens que vão formando cenas, virando um filme... ;)

Abs.

Regular Joe disse...

Ah, Dauri, mas a catedral do seu coração não está vazia, não. Entoam-se cânticos e hinos de amor e arte; os afrescos são magníficos; o púlpito, o altar, o sacerdote encarregado do rito, a éfode, a sobrepeliz, o hissope, o aspergir, enfim... beleza, música, profundidade, vida.
Um grande abraço do João

Iana disse...

Ola...

Vim ler-te
encantar-me em seus textos
que na realidade são encantadores
apenas pessoas lindas, doces, puras, sentimental escreve versos e brinca com as palavras doces


beijos da rosa amiga
Iana!!!

Colibri disse...

Olá,

A cada emoção sentida, há um poema que é escrito no nosso coração. Ele pode ter palavras, ou ser um mero sentir, mas ele existe...

Um grande abraço
Colibri
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