31 agosto 2008

Os passos mais criavam a queda do que um caminho,
mas ele seguia como se abrisse uma estrada.
Corria no estômago uma fome navalha
uma fome cortante que nem um pão sacia,
e para além do que ele podia ir, caiu,
espatifou-se com a cara no chão e se viu,
por um instante se reconheceu no rés,
no destino de chão, no gosto de sangue na boca e poeira.
Passado o instante voltou a agonia
de correr, ir e saltar sobre o precipício
como se o correr e a agonia formassem penas,
... e leveza.

10 comentários:

Joice Worm disse...

Faz imaginar um bêbado equilibrista desesperado.

eder ribeiro disse...

mas sempre haverá a necessidade do passo, que diga o macaco, pois o passo dado deu em nós. valeu.

Anônimo disse...

O movimento da pressa é angustiante.
Mistura de agonia, correria, desequilíbrio, insensatez...
Não se sabe por qual razão
...são muitos os motivos que levam a agonia de correr.

Abraçao.

Tiago Soarez disse...

Tive a mesma impressão que a Joyce!

Grande abraço,

Uma semana Bossa Nova pra vc!

Rita Costa disse...

Cheguei até aqui por um acaso e adorei conhecer seu trabalho poético.
Muito boa a sua poesia viu. :) Parabéns!

Fica meu meu convite para que venha conhecer o “Ipsi Literis”, [ http://ipsiliteris.blogspot.com/ ]. É um blog novo ainda e também de poesia. Até breve... um abraço

Anônimo disse...

"Os passos mais criavam a queda do que um caminho,
mas ele seguia como se abrisse uma estrada"

Simplesmente perfeito!
Adoro tudo que você escreve... e esse em especial ficou magnífico, parabéns!

bjos

Patrícia Colmenero disse...

Gostei da brincadeira de sons do poema anterior!
Neste, o final me convenceu, apesar de ter me desinteressado no meio.
intrusa. beijo

Anônimo disse...

Vou lendo e tento captar seu poema...
Seguir, trôpego, abrindo estrada(que, portanto, não estava aberta...). Na fome( na ansiedade) que não é carência de matéria física. Reconhecer-se na dor do destino que o quer ligado à terra.
Mas, é preciso cumprir a missão de "correr" e arriscar( no salto do precipício). Mesmo porque correr e agonia são as PENAS, ou sofrimento, mas podem ser elementos das asas(que conduzem ao vôo e à leveza).
O jogo com a palavra "penas" ficou interessantíssimo!
Enfim, seus poemas, de aparência simples, escondem, na verdade, fundamentos essenciais do "fazedor de poesia".
Beijos, Dauri.
Dora

Katia De Carli disse...

Meu correr e minha agonia transformam-se em chumbo.
Pesam,
muito,
ainda.
beijo

Camilla Tebet disse...

"Corria no estômago uma fome navalha
uma fome cortante que nem um pão sacia".
E a leveza. É a fome que o pão não sacia.. e ela acaba se manifestando em belas letras.