12 maio 2008

E eu respondi sou um olhar

Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar.
Sem compreender perguntaste quem sou,
eu respondi um olhar de olhos sonolentos
que enxerga menos e vê o que não se vê.
Em maior inquietude quiseste saber quem sou.
Sou um olhar de olhos franzidos, fixos, perdidos,
que transita entre a altivez do vigia
e o sonho do aguardador de auroras.
Ainda com mais realce perguntaste quem sou,
eu como um menino em brincadeiras
ou um homem apaixonado em carinhos
disse que sou um olhar de olhos semiserrados
que procura uma poesia,
aquela que foge da luz em demasia,
se esconde dos olhos que espiam tudo
e se distancia do olhar capcioso, interesseiro,
apegado à superfície plana dos panos.
Tu me perguntaste e eu respondi sou um olhar
que escorrega pela tua pele, enxerga os poros, grãos de pólen
das flores que ainda vão crescer nos ocultos jardins
do teu veludo, caminho, porto.

Meu amigo, amiga,
se você se dispusesse a continuar escrevendo
depois do meu primeiro verso, de que modo
o faria?
Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar.
...............................................

Obrigado.

15 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Eu faria assim amigo...
Sou em tempo alguma paisagem
Momentânea expressâo feito poesia
Que fala e silência aos olhos da alma...


Grande abraço...boa semana pra você...parabéns pelo belo poema.

Anônimo disse...

Esquisita tua resposta...
Mas, pensando bem,
eu também gostaria de ser um olhar.
Um olhar que se esgueirasse
pra olhar por dentro,
e tivesse o dom de transformar
tudo em belo como o azul aquecido
de uma paisagem marinha
com gaivotas pescando.

Dauri Batisti disse...

Esquisita sim, Maria Helena, diferente, estranha. A poesia se presta a falar de um modo estranho o que todos sentimos de um modo tão conhecido. Obrigado pela participação no poema.

Katia De Carli disse...

Querido Dauri
De você não esperaria menos! Que desafio!

Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar.
Nem sempre alegre,
Nem sempre triste.
Às vezes cansado,
Outras, extasiado,
Sem identidade,
Sem números, cartões,
Só um olhar que reflete o que vê
Emoções.

Estou de volta
Tentando arrumar a vida,
bejo grande
Kátia

Josely Bittencourt disse...

Ei Dauri,

q legal, eu continuaria assim:

Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar.
o olhar de Íris
espelho em arco
tal mensageira
das cores
da aurora
pupila
esse olhar
evidência
que retine
em raios
sobre
a linha
do mar
.............

ah, mas ficou pedante demais... rsrsrs
Pois tem outro bem melhor, que faz um diálogo bem mais interessante, é de Alice Ruiz:

olhar o mesmo olho
com outros olhos

em outro olhar
o mesmo olho

nos mesmos olhos
o olhar do outro
de olho
.............

um abraço

Beto Mathos disse...

"Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar."
Me leste os olhos e eu não os desviei dos seus.
Neste momento, pergunta alguma
podia pairar no infinito, pois
que, me desvendaste a alma
e, nua, minha alma se traveste
dos desejos que não ousas desejar.

-----------------------------

Só tú, amigo poeta, pra nos fazer tamanho desafio. Mas, desafio aceito, está feito.

Grande abraço!

lula eurico disse...

Belo poema, Poeta. Bela imagem, a do aguardador de auroras...

Jacinta Dantas disse...

Como diz o Beto: desafio feito, desafio aceito, embora sem jeito de poema.

O OLHAR QUE TE REVELA

Tu me perguntaste quem sou e eu respondi: Sou um olhar, reflexo, entre eu e você, na complexidade da escuridão. Tu me perguntaste quem sou e eu respondi: Sou um olhar, curtido pelo tempo, que se faz num filete de luz –a luz da lanterna – que mostra o caminho e te possibilita O olhar que te revela e te escuta, no desejo embaçado de se enxergar na essência do que se faz beleza na existência. Tu me perguntaste quem sou e eu respondi: Dentre os vários pontos de luz... Eu sou um olhar.

Enão, é isso.
Beijos

Joice Worm disse...

"Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar."
Sou a luz que penetra nos seus olhos sem cegar.
Sou o fio de prata que te liga ao que eras e ao que serás.
Sou o milagre que veio para te amar.

Boa Dauri. Adorei o desafio!
Um beijo grande da Joice.

Plinio Uhl disse...

Tu me perguntaste quem sou
e eu respondi sou um olhar.
Marejado, turbulento
Partido.
Apenas um é meu.
O outro se perdeu.
Por onde ele anda?
Tu bem sabes.

Juro que tentei, rs.

Abs!

Anônimo disse...

Poeta, depois de ler seus versos, não me atrevo a responder assim, de pronto. E nem saberia.
Vou escrever, mais tarde, amanhã.

beijos

Anônimo disse...

"...procura uma poesia aquela que não foge a luz demasiada..."
essa é uma busca que quisera eu alcançar! Poesias que não fogem a luz são raras, pois para mim poesias são desabafos e desabafos são coisas que não gostam de luz. Abç. (desculpe a estranheza que talvez meus comentários causam, é que tenho uma forma bem particular e incomum de sentir a poesia.)

Dauri Batisti disse...

Luz, Pipilo, em demasia para mim significa exposição, dispersão, flash, fulgor passageiro, luz midiática, superficial, iluminadora de planos muito abertos, displicente com detalhes, gestos, carinhos, sinuosidades.

Esta que não quer luz em demasia é a poesia que também quer prestar atenção na pele, quer ver os poros e enxergar o pólen.

No meu entender desabafo quer luz em demasia, pois não suporta pensar sobre, avaliar, meditar, ponderar. Desabafo é movimento emocional, poesia no meu entender é fruto da sedimentação, da paciencia, do trabalho com as palavras sem necessariamente estar possuído por sentimentos. É fruto também do recolhimento, da meia-luz, do trabalho que se faz sozinho, no silêncio.

Acho que nos aproximamos no entendimento da poesia, mesmo que sua visão do meu poema leve a pensar que não.

Obrigado

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Acredito que sim, nossas visões sobre o mundo das poesias são parecidas. Esse poema assim como todos os outros mexeram muito comigo, desculpe ter me restringido a comentar apenas uma pequena parte e deixar de escrever minha visão geral causando dessa forma talvez, uma impressão controversa. abraço.