Me alivio precariamente com olhares
Pelas aflições de saudades
embarco num navio qualquer,
velho, sem reparos, como um fugitivo.
O mar me força a dizer qualquer coisa
ou a cantar um hino doce à Mãe de Jesus,
Senhora de quem sai pra navegar.
O pior, meu amigo, acontece:
por não saber cantar, nem saber o que falar
ele me rejeita, me mareja, me salga,
me balança, me lança de novo na praia.
Recolho molhadas as aflições
aquelas que vou aprendendo a levar
e semeio, pelas trilhas da ilha,
aquelas que imagino sejam sementes,
embora não saiba de quê.
Assim mesmo semeio, amigo,
pois o gesto é arte de amar, talvez.
Com as outras vazo para o outro lado da ilha
e subo num ponto bem alto, arrastando-as,
e me alivio precariamente com olhares,
destes que a gente olha, olha, olha
sem saber para onde olhar.
10 comentários:
aliviar-se, amigo, com olhares no e pro aberto, no risco do horizonte, arco-íris de multiplicidades, e, no chão do mundo, ilhados que seja, sentirmos que todo o mar é parte nossa, de nossas ilhas.
belo poema e te convido a uma presença.
a
luis de la mancha.
Seu "mimo" para o florescer chegou na hora certa. Muito bom ser destaque em essapalavra. Viva!
Beijos
Jacinta
Opa!
Muito bom!
A aflição de um semeador ...
que presta mais atenção nas raízes que nas folhas...
O que semeia um coração que ama, só pode ser amor...
O resultado não é imediato, resta olhar, olhar, aliviar e esperar.
Abração
Teus versos estão ficando cada vez mais necessários.
Eu me alivio precariamente com palavras. Doces, sábias, longas ou simplesmente vãs.
E o olhar chega onde se é preciso chegar e se faz escutar nos gestos, no amor e na palavra que se tornam sementes.
Grande abraço de feriado
Ana Paula
!! Muito Bom !!
Dauri,
Como não sei se vc leu a mensagem que te deixei em seu ultimo poema postado, volto para convidá-lo para o lançamento de meu livro.
Aliança Francesa
25-04 (sexta-feira)
Um abraço,
Jorge Elias
a riqueza por estas searas me leva àquela experiência extra-sensível que constitui a 'ratio essendi' de toda expressão artística imperativa.
DESTACO:
"Recolho molhadas as aflições
aquelas que vou aprendendo a levar
e semeio, pelas trilhas da ilha,
aquelas que imagino sejam sementes,
embora não saiba de quê."
obrigado pela visita!
Dauri,
Agradeço o destaque e deixo meus parabéns para a iniciativa.
Hoje, voltei com mais calma...
Gostei muito do poema "vazios cheios de azul".
Até sexta-feira.
Jorge Elias
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