17 março 2008

Eu, ele, o outro


Acredite, tive que dizer que eu sou eu,
mentindo, fazendo-me ateu de mim mesmo.
Disse assim frio, sem querer convencer sabendo que convencia.
Mas eu tive que dizer, por mim mesmo.

Na verdade hoje eu escolho quando vou afundar em mim,
para me navegar por dentro e buscar o ouro, o outro,
o outro que vale ouro, o tesouro que me querem roubar.
Preferi que ele pensasse que eu sou eu, um desses tantos.

Já tive vontade de vomitar diante do escárnio e deboche;
a raiva me enfraquecia eu outro. Agora não mais. Aprendi.
Guardei minha força para a hora que chegou.
Enquanto ele pensa que eu sou eu, eu já sou outro;
enquanto ele ainda está no esboço do sorriso medíocre,
o outro já lhe encostei o punhal no pescoço.

9 comentários:

fjunior disse...

esta batalha entre tantos de nós que fazem de nós quem somos é sempre apocalíptica... devastadora... mas por fim, o bem dos dois, dos três, sobra, o que sobra é sempre bom, a melhor parte... adorei isto aqui: "fazendo-me ateu de mim mesmo." - penso que isto é uma descrença em si diferente... diferente da descrença de uma estima baixa, mas é a descrença dos tantos eus que militam um contra o outro, é uma descrença que surge para que o eu de verdade possa sair vitorioso...

Leandro Jardim disse...

Muito muito bom! Realmente adorei os caminhos da contrução deste seu poema!

Coincidentemente também andei trovejando sobre reconecimentos... abs, Jardineiros

Luciana Cecchini disse...

Perturbou-me este texto. Muito bom mesmo! Esse outro vale ouro, concordo. Pena que aparece pouco. Ou, às vezes, ele está aqui, agora mesmo, e eu nem sei...

:: Daniel :: disse...

Nossa, há muito tempo não leio algo tão imnpactante -- e tão real, tão palpável pra mim.

Obrigado pelas palavras. Dignas de serem lidas e relidas.

Abs

John Doe disse...

Desculpe pelo comentario meio que em massa.

PS.: Meu blog agora tem companhia, pela minha ausencia, e por meu anseio de não deixar meu caderno esquecido num canto, convidei meu primo que apesar de ter problemas em editar seus posts, escreve muitas vezes melhor que eu... espero que seja uma mudança a acrescentar...

Jorge Elias disse...

Concordo com f.s. junior.
Penso que no processo de elaboração do Homem é fundamental esse sentimento que vc descreveu de forma maravilhosa:"ateu de mim mesmo".
Esse desacreditar, questionar, até mesmo rejeitar as multiplas facetas de nós mesmos, nos possibilita o entendimento de nosso lugar no mundo ( nos faz menos antropocêntricos).
Gosto daqui por que me faz pensar.
ACREDITO nesse papel da poesia.

Abraços,

Jorge Elias

Mike disse...

"Eu não sou eu
Nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio..."
(Mário Carneiro)

Dauri, muito bom... me tocou de forma especial estes teus últimos versos... às vezes também me perco entre eu e o outro que habitam em mim.

Grande abraço

Anônimo disse...

Como � bom conhecer nossos eus. Aprendi muito com sua poesia. Gostei do jogo interior. Vou aproveitar mais.

Anônimo disse...

Confrontos desconfortantes com os eus... as vezes alguns desses me faz descrer de mim...
Mistura de personagens, de esquisitices, durezas da vida que os meus eus não souberam encontrar a leveza...
EU DEIXEI que me roubassem ouro...
Busco por esse dia que saberei mergulhar e navegar no melhor de mim!
Voçe me faz refletir com seus lindos poemas.

Abração!