09 janeiro 2008

O que não cabe entorna e se mostra, olhe

Há que se escrever não sei.
Há que se escrever não sei para quê.
Há que se escrever para se poder viver.
Há que se escrever o verbo haver.
Tenho aqui uma poesia
que acabei de ler e no peito
uma vontade de dizer,
mas nem sei. Escrever é... me por na estrada.
Talvez seja melhor ficar sentado,
dispor um bom discurso,
lindo e trapaceiro,
e falar baixinho
para que eu não escute a mim mesmo.
Ou falar palavrões bem alto,
dar nomes diversos aos órgãos do sexo,
e angariar uma simpatia fácil.
Eu não concordarei, contudo
com a falsa devoção e a conversa
que assim direi. Mas na verdade
eu sinto que ao escrever me falo certo.
Cada palavra é uma máscara que reconheço,
uma por uma. Vou montando a exposição
dos meus embustes, meus personagens
minhas pessoas várias, meus eus
em paredes com muitos pregos.
Hei de me ver. Não é tão certo,
já que para cada máscara reconhecida,
outras são criadas. Haja estrada!
Você também há de se ver, em parte.
O que não cabe, entorna
e se mostra, olhe.
O verbo haver sempre retorna,
com o poder, e a maciez
que não há no verbo ter.

9 comentários:

fjunior disse...

há de haver um silêncio baixinho, que disfarce nossa voz, que nos engane, por um instante, um instante só, depois a gente assume tudo, retira as máscaras e encara o espelho...

Dauri Batisti disse...

É isso ai Junior.
O desejo é ser completo, único, sem rasura, singular. Mas somos partidos, muitos, incompletos, complexos...
Cultivamos a ilusão de ser um, quando somos dois, tres, quatro...

Dauri

Anônimo disse...

De fato o verbo haver é mais plástico, dinâmico, maleável. O ter é duro, objetivo. Boa percepção.

Jacinta disse...

Gostei disso: "...para cada máscara reconhecida, outras são criadas. Haja estrada...". E assim vivemos descobrindo e redescobrindo quem somos. Até porque, acho que somos várias pessoas numa única pessoa, experimentando o ser criança, o ser jovem, o ser velho. Cada ser repassa a excência de ser um em vários. É por aí que interpreto o seu "entornar"
Um abraço

Ana Paula

Dauri Batisti disse...

Ana,
parece que é isso mesmo... nos percebemos no que entornamos, e até nos identificamos com o que entornamos. Confundimo-nos com o derramado. Parece (sei lá eu) que somos o transbordamento do mistério, que continua mistério.

Benvinda sempre.

Luis Eustáquio Soares disse...

nas aventuras sigosas, de nossas máscaras, na dança de suas expressões, outras máscaras emergem e submergem tantas outras, em trocas simbólicas de máscaras através de máscaras, tal que eu sou 300, eu sou 350, e assim sou outro de outra de outro de outras... e somos finalmente o começo de todas as desmedidas de ser e de estar. obrigado pela visita.
abraço,
luis

Wellington Felix disse...

A sua arte, arde, dói, mexe e remexe paixões, neste poema do ser, do ter, e do que ha de haver
Adorei sua visita, quanto a mim ...virei fregues
Um forte abraço poeta!

Silvio Locatelli disse...

Ta arrepiando nos verso, muito manero esse trecho......


Talvez seja melhor ficar sentado,
dispor um bom discurso,
lindo e trapaceiro,
e falar baixinho
para que eu não escute a mim mesmo.
Ou falar palavrões bem alto,
dar nomes diversos aos órgãos do sexo,
e angariar uma simpatia fácil.
.
.
.
tempos n aparecia por aki..
...seu espaço ta movimentado d+....
..cheio de amigo.....muito bom!



Silvio Locatelli,

Sueli Maia (Mai) disse...

Dauri, i'm really breathless now and than...

Isto não posta, mas eu sei que sou uma "amadora"
Porque acredito que o amor, existe, de verdade.
E amo, a humanidade inteira.
Não sinto raiva, em mim.
Não sinto dores-sépia de ódio ou vingança-vil.

E não te ocupes em postar isto aqui, mas Eu te amo.
a tua poesia é feito mágica...
É uma festa.
E vou parar de ler, ou me enfeitiço ou me enfeitiças, sem querer.

Muito carinho.

Parei em 9 de janeiro.