28 dezembro 2007

Olhar na mesma linha dos trilhos

Quando veio aquele trem
ele largou a foice e correu,
se jogou no chão e estabeleceu
seu olhar na mesma linha dos trilhos.
O tremor lhe atravessou até a língua,
suas mãos se tornaram garras no chão,
seus olhos, escancarada boca de forno
e riacho pequeno e espumoso
umedeceu o capim.
Depois que o trem passou
ele viu o lado de lá onde vivia,
ou só morava:
o mesmo terreiro seco e varrido,
o mesmo curral lamacento,
a mesma casa pequena,
pai, mãe, irmãos lá.
E o sol caindo, caindo,
tudo parado, tudo caindo
na mansa boca da noite.
O que ele esperava,
ou sonhava,
era tomar o trem e se ir
não sabia para onde,
como se houvesse um longe
onde fosse possível fugir
daquele trem da alma,
ou do corpo - quem sabia?
Tão certo quanto o trem
que passava todo dia
quem passava era ele
... que ficava
sem saber a que horas
aquele outro voltaria.

4 comentários:

Anônimo disse...

"onde vivia,
ou só morava"

"como se houvesse um longe
onde fosse possível fugir"

"quem passava era ele
... que ficava"

Esses trechos me emocionaram muito, consegui sentir suas palavras, na pele, sensações verdadeiras.

Que seu 2008 seja repleto de palavras belíssimas que saídas de sua alma, acalentam as nossas!

Bjos

Beto Mathos disse...

Percebo o mar em seus poemas...
O mar...
Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Maravilhoso!!!!
Parabens mesmo!!!

Dauri Batisti disse...

Neste poeminha quis falar de dois trens. Um, o de ferro, real; o outro um trem da alma, do corpo, um ataque epiléptico, tão real quanto o primeiro, mas não de hora certa quanto aquele.
Obrigado pelos comentários,

Dauri Batisti