Tu és uma semente
que caiu bem longe
de onde poderias criar raízes.
Caíste no meio de umas formigas
fortes, fedorentas, valentes.
Pegaram-te antes que sentisses o frescor da terra
e tremesse dentro tua força
no desejo por terra, sol e água.
Elas te levaram e eu te acompanhei.
Queria te libertar, mas como?
Tu serias uma bela árvore.
Rezei para que tua pele endurecesse
e lá no buraco elas não conseguissem te mastigar.
Num dia de chuva a umidade chegaria
e tu explodirias todo o formigueiro com tua força.
Entretanto,
teu broto é tenro,
tua raiz saborosa.
Não tem jeito.
Não me escutas, pois dormes feliz.
Para ti canto um réquiem besta
tropeçando minhas patas
nas patas de outra formiga
- outra escrava -
que mais doida e obstinada do que eu
segue seu destino e teu enterramento.
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