23 março 2013

PEQUENO CONTO

, o outono?, ou as chuvas de março?, ou o fim de verão?, ele não tinha o que pensar porque tinha muitos pensamentos e preferia ficar propondo-se questões sem pé nem cabeça pra ocupar a mente, ficava ali na varanda do segundo andar, nem sempre sozinho

, mas aprendera a ficar sossegado com suas questões para enganar a própria mente dada a meditar as dores, ali no mesmo lugar do velho sofá onde a bunda criara um mundo abaulado, uma cratera de pensamentos vagantes

, quando a varanda se povoava daqueles tantos que lhe pareciam estrangeiros, mas que eram seus filhos, netos, bisnetos já teria também? e não sabia mais quem, ficava ali a olhar o mar, mantinha-se como se eles ali não estivessem, olhava para o mar a sentir a maresia, mesmo quando um ou outro querendo aparecer diante dos outros como bem dedicado e amoroso vinha-lhe com abraços e beijos sem muita convicção

, ficava ali a ouvir os ruídos do mar, ruídos que só ali existiam, onde começa o amor?, onde começa o pássaro, no ninho ou no voo? onde começa o amor? começaria o amor na primavera da vida?, talvez comece na sede, na fome, na exaustão, talvez comece na saudade, na urgência de viver, no inverno, no vento sul, no insucesso... onde começa o amor? pois que comece um dia, que não tarde...

Um comentário:

Maria Helena disse...


Como vc já sabe amei esse conto onde ve como sempre entra em nossas cabeças sem pedir licença rsrsrs. E vamos gostando e assimilando...
Saudades!