23 dezembro 2012

Os habitantes - 2

, trabalho com coisas velhas, nem digo antigas, qualquer uma que se possa comprar e se possa vender, e para que você me encontre tem que atravessar este galpão penumbroso de tantas coisas, seguir por pequenas ruas entre elas e chegar aqui onde agora estou, se antes você não se encantar com uma  qualquer, elas nos pegam, as pessoas são pegas pelas coisas, não apenas as novas das lojas apelativas, mas também por estas sem valor, nem são antiguidades, mas comercializo, ganho a vida ou perco tempo, beleza é que não têm, charme é que sim, charme que do uso ganharam, das assombradas marcas que trazem, eis que aqui estou, sou dado a muitas leituras, fregueses são esparsados, romances que ninguém lê, que compro em sebos, que nada me ensinam, me ensinam apenas um certo domínio da língua, lábia que uso pra vender algo de pouco valor como se muito tivesse, mas tenho que viver, comércio não se faz sem se agregar histórias ao que se vende, o que ela diria, retomo a pergunta, não há como resposta nenhum barulho, nenhum sinal, ela retirou-se para uma outra conversa, com São Rafael talvez, pedindo por alguém uma ajuda, se sua vida foi assim, como não ser sua morte, como não ser sua morte essa ponte constante de atravessar entre quem precisa e quem pode ajudar

2 comentários:

Maria Helena disse...


Puxa vida!Você é um grande embaralhador de palavras e um exímio comerciante das suas idéias que compramos na certeza de que adquirimos o melhor que há no mercado dos galpões penumbrosos da existência, para ter-se uma vida de alegrias compartilhadas.
Certo mestre?
Abç.

Paula Barros disse...

Gosto quando leio um texto seu e tenho vontade de chorar. É porque me encantei com algo, é porque me perdi na beleza da trama, é porque fico tonta indo e vindo nas ruelas da frases...