Os habitantes - 5
, sofrer este ou aquele acontecimento, um esbarrão aqui ou lá é uma coisa, mas seguir a vida semeando desejos e sonhos, e na colheita ter apenas esmirrados frutos, nem sempre doces, na maioria das vezes não, exige uma espécie de paciência, aquela que talvez seja parelha à dos monges, uma paciência que se amasia com o divertimento que se dá a partir de abundantes pequenas coisas, um riso farto e uma sensação de felicidade por uma trivialidade qualquer, ria de si mesma, sentia sede e não tomava água, Romana olhou a clarabóia empoeirada lá no alto marcada por camadas de poeira por cima e de olhares por baixo, os dela pelo menos, olhares como de prisioneiros, sede de prisioneiro, e levantou-se rápido, abaixando-se sem dobrar os joelhos como era seu costume, mantendo uma feliz capacidade de flexionar a coluna sem os incômodos da dor, para tomar a chaleira de alumínio no armário, nas portas de baixo de um velho armário de madeira, ferver a água e passar um café novo, logo teria que servi-los, colocou sobre a pia a vasilha e abriu a geladeira, encheu um longo copo de água, tomou-o e lembrou-se de novo do esquadrão, seu marido morto, ninguém sabe quem o matou, todos comentam do esquadrão, arrepiou-se em pensar que a campainha cujos sinetes retiniram em alguma igreja pra o serviço da missa se prestasse agora a chamá-la, logo, logo, para servir o café ao governador e aos seus homens engravatados